Moradores de Las Tejerías ajudam socorristas na procura por desaparecidos após o deslizamento de terra na cidadeAFP

Las Tejerías - Brigadas de resgate mantêm em curso a incessante operação de busca de 52 desaparecidos após um deslizamento de terra que arrasou Las Tejerías, uma cidade industrial no centro da Venezuela, deixando pelo menos 25 mortos. É o pior desastre natural da Venezuela em décadas.
Com um alto-falante, um militar comanda os cerca de 100 socorristas que reviram os escombros do deslizamento ocorrido no sábado, 8, em meio a uma atípica temporada de chuvas, agravada pelo fenômeno La Niña, por ondas tropicais e as rebarbas do furacão Julia.
"Continuamos a busca", repete um socorrista que participa das tarefas de resgate desde sábado, quando uma forte chuva caiu sobre esta cidade de 54 mil habitantes cercada por montanhas.
Os moradores apoiam, desesperados, esses esforços, junto com as autoridades, forças militares e policiais, usando picaretas, pás, ou o que quer que encontrem. Os trabalhos não pararam durante a noite, seguindo com a ajuda de cães e drones. Os bombeiros usam motosserras para cortar as gigantescas árvores caídas.
"Estamos trabalhando para garantir que possamos encontrar as pessoas que ainda estão desaparecidas. Essa é nossa principal tarefa agora e devemos nos concentrar lá", disse o ministro do Interior, Remigio Ceballos, dirigindo-se à noite aos funcionários no local.
"Isso está apenas começando", encerra a mensagem, publicada nas redes sociais.
Outras 13 pessoas morreram em diferentes regiões do país também em decorrência desta temporada de chuvas. "Setembro foi muito chuvoso. Tivemos registros históricos de chuva em algumas áreas", disse à AFP o gerente do instituto venezuelano de meteorologia (Inameh), Ángel Custodio.
No domingo, 9, a vice-presidente Delcy Rodríguez disse que, em Las Tejerías, "choveu em oito horas o que chove em um mês". "É a crise climática", afirmou.O governo instalou vários abrigos em Maracay, capital de Aragua, anunciou o ministro Ceballos.
Cerca de mil agentes estão envolvidos nos esforços de resgate. O presidente Nicolás Maduro decretou três dias de luto nacional pelas vítimas. "Estamos monitorando permanentemente a situação em Las Tejerías, no estado de Aragua, para oferecer a maior atenção e apoio possível à população", tuitou.
Dois estádios de beisebol, os maiores de Maracay e Caracas, foram autorizados a funcionar como centros de coleta. O metrô de Caracas também anunciou que receberá doações para os afetados. ONGs, fundações e supermercados também permitiram que suas sedes recebam doações para enviá-las para Tejerías.
"Trouxe água potável, leite em pó, guloseimas (doces) para as crianças e algumas roupas para as crianças também", contou Karla Cuervo, de 39 anos, ao deixar sua doação em um posto de paramédicos na capital do país. A equipe da AFP foi a Las Tejerías e constatou a destruição de casas e estabelecimentos comerciais.
A tragédia aconteceu após três horas de chuvas intensas que começaram na tarde de sábado. Vários rios transbordaram, carregando sedimentos, pedras e árvores do alto da montanha. Árvores gigantescas foram varridas pela pior enchente que a região viveu em 30 anos, cortando a estrada principal da cidade.
Carros e fragmentos de casas também foram arrastados pela corrente, que subiu até seis metros nas estruturas mais próximas ao leito do rio. Muitas residências perderam paredes, e a localidade está sem luz. Um açougue que fechou por causa da pandemia e estava programado para reabrir nesta segunda-feira foi coberto por sedimentos que danificaram equipamentos de refrigeração e tudo o que havia dentro.
"Tejerías nunca voltará a ser a mesma. Vamos embora, porque recuperar isso é impossível", afirmou o comerciante Isaac Castillo, de 45 anos."A cidade acabou. Acabou Las Tejerías", lamentou Carmen Meléndez, de 55 anos e moradora desta localidade situada a cerca de 50 km da capital Caracas.
Meléndez estava esperando notícias de Margot Silva, uma parente que foi dada como desaparecida. Ela mora em uma cidade vizinha e foi a Las Tejerías para comprar mantimentos. "É a primeira vez que vemos algo assim. Sabemos que vamos superar, mas lamentamos as perdas humanas", desabafou. As chuvas causaram danos em vários estados.
Em Zulia, berço do petróleo do país, as autoridades lidaram com enchentes em vários municípios no fim de semana. Pelo menos 10 mil pessoas morreram em 1999, devido a um grande deslizamento de terra no estado de Vargas, no norte do país.