Rússia deflagra maior ofensiva contra Ucrânia desde o início da guerra em fevereiroAFP

Todos os países das Nações Unidas se reunirão nesta segunda-feira (10) para debater uma condenação à anexação de regiões ucranianas por parte de Moscou, poucas horas depois que ataques russos mortais atingiram cidades da Ucrânia e foram denunciados pela ONU e por países ocidentais.
Com essa resolução, cuja votação não deve acontecer antes de quarta-feira (12), as nações ocidentais pretendem mostrar que a Rússia do presidente Vladimir Putin está isolada no cenário internacional. Antes do início da Assembleia Geral, às 15h em Nova York (16h em Brasília), a ONU criticou o bombardeio mortal da Rússia. De escala sem igual em meses, o ataque atingiu Kiev e outras cidades na manhã desta segunda-feira.
O secretário-geral da organização, António Guterres, denunciou "uma nova escalada inaceitável da guerra", na qual os civis "estão pagando o preço mais alto", declarou seu porta-voz Stéphane Dujarric.
O presidente americano, Joe Biden, condenou "energicamente" os bombardeios, afirmando que os mesmos "demonstram a absoluta brutalidade" de Putin. No mesmo tom, a diplomacia europeia também criticou os "ataques bárbaros" da Rússia, enquanto a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) considerou-os "horríveis e indiscriminados".
Os serviços de emergência ucranianos informaram um balanço provisório de 11 mortos e 64 feridos em todo país. Antes dos ataques, a ONU havia decidido levar o tema das anexações das regiões ucranianas para sua Assembleia Geral - onde cada um dos 193 membros tem voto, mas sem poder de veto -, depois que a Rússia bloqueou um texto similar no Conselho de Segurança em 30 de setembro.
"Se o sistema ONU e a comunidade internacional, por meio da Assembleia Geral, não reagissem a esse tipo de tentativa ilegal, estaríamos em uma situação muito, muito ruim", comentou Olof Skoog, que, como embaixador da União Europeia (UE) na ONU, redigiu o texto junto com a Ucrânia e outros países.
A falta de ação da Assembleia Geral daria "carta branca para outros países fazerem o mesmo, ou reconhecerem o que a Rússia fez", afirmou. O esboço do texto, ao qual a AFP teve acesso, condena as anexações "ilegais" das regiões ucranianas de Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia, após os "chamados referendos", e destaca que essas ações "não têm validade segundo o direito internacional".
Também pede que ninguém reconheça essas anexações e exige a retirada imediata das tropas russas da Ucrânia. Em uma carta a todos os Estados-membros, a Rússia atacou as "delegações ocidentais", cujas ações "não têm nada a ver com a defesa do direito internacional".
"Eles buscam seus próprios objetivos geopolíticos", escreveu o embaixador russo na Casa, Vasily Nebenzya, denunciando a "pressão" dos Estados Unidos e de seus aliados.
Nessas circunstâncias, o representante russo pediu uma votação secreta, um procedimento mais que incomum, reservado em princípio para as eleições dos membros do Conselho de Segurança, por exemplo.
"Isso não mostra uma grande confiança no resultado", comentou um funcionário de alto escalão do governo Biden. "Sugere um pouco de desespero", acrescentou.
O próprio Guterres também denunciou as anexações de territórios ucranianos. "Viola os objetivos e princípios das Nações Unidas. É uma escalada perigosa. Não tem cabimento no mundo moderno. Não deve haver aceitação", disse em 29 de setembro.
Durante a votação do Conselho de Segurança do mês passado, nenhum outro país se colocou ao lado da Rússia, mas quatro delegações - China, Índia, Brasil e Gabão - se abstiveram. No momento em que alguns países em desenvolvimento reclamam que o Ocidente está dedicando toda sua atenção à Ucrânia, outros países podem seguir o mesmo caminho esta semana.
A votação permitirá avaliar com maior precisão o grau de isolamento da Rússia. Dado o que está em jogo, os partidários do esboço de resolução estão fazendo o possível para convencer os possíveis abstencionistas.
"Será difícil. A resolução contra a anexação da Crimeia em 2014 obteve 100 votos. Acredito que agora teremos mais", disse um importante diplomata europeu, falando sob condição de anonimato, que estimou entre 100 e 140 votos a favor.
As duas primeiras resoluções da Assembleia Geral contra a invasão russa, em março, obtiveram 141 e 140 votos a favor, cinco contra (Rússia, Belarus, Síria, Coreia do Norte e Eritreia) e entre 35 e 38 abstenções. A terceira, no fim de abril, que suspendeu a Rússia do Conselho de Direitos Humanos, resultou na erosão da unidade internacional contra Moscou, com muito mais abstenções (58) e votos contrários (24), e 93 votos a favor.
Para o alto funcionário do governo americano, a "medida" de apoio a Moscou estará entre os que "estarão ao lado da Rússia", votando "não" ao novo texto.