Método pode ser aliado na recuperação de pacientes que foram intubados - Arquivo Pessoal
Método pode ser aliado na recuperação de pacientes que foram intubadosArquivo Pessoal
Por Rachel Siston*
Um método pioneiro que une a fonoaudiologia ao estudo das impressões digitais, pode ser um aliado de pacientes da covid-19 que foram intubados e vão precisar passar por tratamento para recuperar a fala. A dermatoglifia estuda as impressões digitais e, por meio delas, identifica potenciais musculares, que podem ajudar na elaboração de exercícios específicos para a recuperação dos afetados.

A ciência é estudada desde o início dos anos 1800 em síndromes genéticas e passou a ser utilizada na área do esporte, para identificar talentos motores, como pré-disposição para velocidade e resistência. Em 2017, o método foi relacionado pela primeira vez com a fonoaudiologia, em todo o mundo, a partir de um trabalho acadêmico da fonoaudióloga, especialista em voz e doutora em linguística, Cristiane Magacho.

A especialista conta que conheceu a dermatoglifia no fim de um mestrado, em 2007, que unia profissionais de várias áreas, e ficou tão interessada, que chegou a pensar em mudar o tema de sua tese. Porém, foi só anos mais tarde, em um doutorado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), que ela associou essa ciência à voz de cantores líricos e de musicais. Segundo a fonoaudióloga, que atende especialmente profissionais da voz, como cantores, dubladores e atores, o procedimento colabora para uma reabilitação mais rápida e até para o aprimoramento das capacidades vocais.

“Eu identifico os potenciais musculares dos pacientes para prescrever exercícios vocais. Se eu sei que ele tem pré-disposição para velocidade, resistência, coordenação motora, me ajuda na escolha dos exercícios. Vou entender o funcionamento da corda vocal e vou conhecer o potencial genético. O paciente vai receber alta mais rápido, no caso de rouquidão, calo nas cordas vocais, ou se ele procurar aprimoramento da voz, vai alcançar uma performance e condicionamento vocal muito mais rápido”, explica Magacho.

Assim como em profissionais da voz, os pacientes que se recuperaram do novo coronavírus também podem ser beneficiados pelo método. De acordo com a especialista, a intubação é feita pela laringe e o tubo de oxigênio vai até a traqueia, passando pelas cordas vocais, que podem ser danificadas, caso o paciente tenha pouca abertura da boca no momento do procedimento.

“Conhecendo o potencial genético do paciente, se trabalha melhor a respiração, a voz, baseado na identificação de potenciais musculares. Não é uma receita de bolo, é preciso avaliar caso a caso, mas a dermatoglifia é uma aliada para os pacientes reaprenderem a falar, porque vai conseguir traçar exercícios específicos para o que ele precisa e ir direto ao ponto.”

A dermatoglifia aliada à fonoaudiologia foi apresentada pela primeira vez em um congresso em Paris, na França, e o método já é utilizado por profissionais da área em todo o mundo. No Brasil, a doutora Cristiane Magacho capacita profissionais por meio de cursos e uma nova turma começa em setembro.
* Estagiária sob supervisão de Bete Nogueira
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