Seul - Estados Unidos e Coreia do Sul realizaram disparos de mísseis nesta quarta-feira em um exercício que simulava um ataque de precisão contra a liderança norte-coreana, após o teste de um míssil balístico intercontinental realizado na véspera pela Coreia do Norte.
As forças sul-coreanas e americanas lançaram dois mísseis balísticos, de maneira simultânea, "como uma forte mensagem de advertência", durante exercício que simulou um ataque norte-coreano, informou o alto comando em Seul.
Os dois mísseis atingiram um alvo hipotético, "demonstrando a capacidade de bombardeio de precisão contra o quartel-general do inimigo em um momento de emergência".
O presidente sul-coreano, Moon Jae-In, destacou que a "grave provocação exigia que reagíssemos com algo mais que uma mera declaração". Moon também advertiu que há uma "linha vermelha" que a Coreia do Norte não deve ultrapassar.
Na terça-feira, a Coreia do Norte lançou com sucesso um míssil balístico intercontinental (ICBM) capaz de carregar uma "carga grande e pesada", segundo a agência oficial norte-coreana KCNA.
Depois de supervisionar o lançamento pessoalmente, o líder norte-coreano, Kim Jong-Un, disse que "os bastardos americanos não vão ficar muito contentes com esse presente enviado pelo aniversário de 4 de Julho".
O míssil Hwasong-14, lançado em um momento decisivo nas ambições armamentistas de Pyongyang, seria capaz de alcançar o Alasca, de acordo com especialistas.
A Academia das Ciências de Defesa da Coreia do Norte afirmou que o míssil subiu a 2.802 quilômetros e percorreu uma distância de 933 quilômetros.
O secretário de Estado americano, Rex Tillerson, confirmou que a Coreia do Norte fez, pela primeira vez, um teste de míssil balístico intercontinental.
"Os Estados Unidos condenam fortemente o lançamento pela Coreia do Norte de um míssil balístico intercontinental. Testar um ICBM representa uma nova escalada na ameaça aos Estados Unidos, aos nossos aliados e parceiros, à região e ao mundo".
O secretário acrescentou que os Estados Unidos "nunca aceitarão uma Coreia do Norte armada com aparato nuclear".
Em sua declaração, Tillerson chamou o governo de Pyongyang de "um regime perigoso" e disse que Washington tomará "fortes medidas" no Conselho de Segurança da ONU para responsabilizar os norte-coreanos pelo teste.
O tiro de um ICBM - progresso que o presidente Donald Trump prometeu que "não iria acontecer" - representa um marco para o regime comunista.
Fortes reações
O teste provocou uma forte reação do presidente americano, Donald Trump, que pediu à China, principal aliado de Pyongyang, para "acabar com esse absurdo de uma vez por todas".
A China defendeu os "esforços incessantes" para resolver o problema nuclear norte-coreano e pediu "contenção" a todas as partes.
Em um comunicado conjunto, Rússia e China pediram que a Coreia do Norte instaure uma "moratória" sobre seus testes nucleares e lançamentos de mísseis e que os Estados Unidos cessem os exercícios militares na região, a fim de diminuir a tensão.
Moscou e Pequim clamaram por "moderação e que os países se abstenham de atos de provocação", indicaram os respectivos ministérios das Relações Exteriores em um comunicado comum, após um encontro no Kremlin entre os presidentes Vladimir Putin e Xi Jiping.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou fortemente o teste do míssil, e qualificou o teste de "mais uma violação descarada das resoluções do Conselho de Segurança e uma escalada perigosa da situação".
Guterres acrescentou que a "liderança da Coreia do Norte deve evitar novas ações provocativas e cumprir plenamente suas obrigações internacionais".
A União Europeia disse que poderá impor novas sanções à Coreia do Norte, depois de ter ampliado no mês passado sua lista de dirigentes e entidades castigados por Bruxelas.
O Conselho de Segurança deve se reunir na quarta-feira para uma sessão de emergência, a portas fechadas, para analisar a situação.
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Pyongyang, que já realizou cinco testes nucleares e dispõe de um pequeno arsenal atômico, tenta produzir mísseis intercontinentais (ICBM) para alcançar o território americano, uma medida contra o que define como ameaça de invasão dos 28.000 soldados que os Estados Unidos mantêm mobilizados na Coreia do Sul.
Os analistas duvidam da capacidade de Pyongyang para miniaturizar uma ogiva nuclear e armar um míssil, assim como de sua capacidade para controlar a tecnologia de retorno à atmosfera, necessária para um míssil intercontinental.
Mas todos os especialistas concordam sobre os avanços consideráveis dos programas balístico e nuclear de um dos países mais isolados do mundo desde 2011, quando Kim Jong-Un chegou ao poder.
David Wright, analista da organização Union of Concerned Scientists, afirmou, com base nos dados disponíveis, que o projétil realizou potencialmente uma trajetória "muito curva" e "poderia alcançar no máximo 6.700 km com uma trajetória padrão".
"Este alcance não é suficiente para atingir os 48 estados (ao sul do Canadá) ou as maiores ilhas do Havaí, mas seria suficiente para atingir todo o Alasca".