Por tamyres.matos

Rio - Um mês e meio após o misterioso desaparecimento de Amarildo de Souza, a Polícia Civil subiu a Rocinha ontem para, finalmente, fazer a reconstituição dos últimos passos do pedreiro. A ação, prevista para durar 12 horas, mobilizou grande aparato policial e tentou esclarecer dúvidas e contradições do inquérito, além da questão vem intrigando o país desde a noite de 14 de julho: o que aconteceu com Amarildo? A pergunta foi feita por centenas de moradores da comunidade que, dos becos e janelas, acompanharam a movimentação dos agentes e cobravam uma resposta.

PM que estava de serviço no dia do desaparecimento de Amarildo usa capuz e máscara durante reconstituição realizada pela Divisão de HomicídiosMaíra Coelho / Agência O Dia

Com quatro horas de atraso e seguindo a ordem cronológica dos fatos, a simulação começou às 18h50. A ação foi comandada pelo delegado da Divisão de Homicídios (DH), Rivaldo Barbosa, e contou com cem agentes da especializada e da Coordenaria de Recursos Especiais (Core), além de peritos, dois promotores e 30 alunos do curso de delegados. “Acho extremamente necessário colocar numa dinâmica o que foi dito em todos os depoimentos”, explicou Rivaldo.

Treze policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha — que trabalharam no dia em que o pedreiro desapareceu —, foram chamados a participar. Os familiares do pedreiro também foram chamados, mas não quiseram participar da reconstituição.

O primeiro ato ocorreu no ‘coração’ da Rocinha, a localidade da Cachopa, e foi acompanhado por moradores. Com movimentação intensa de veículos e pedestres, o local parou para ver o depoimento de um dos PMs, que pediu para ficar encapuzado por morar em local de risco e temer represálias. Muitos moradores tiravam fotos e gritavam ‘Cadê o Amarildo?’. O trânsito foi interrompido pela polícia por 15 minutos, durante a reprodução. Ali, os agentes tentaram checar a informação de que o PM teria parado para buscar um colega. Toda a ação foi filmada e fotografada por policiais do núcleo de Depoimentos Especiais da DH.

Amarildo sumiu no dia 14 de julhoReprodução

O segundo ato foi na sede da UPP. Quatro PMs, que estavam na base no dia do sumiço, deram suas versões, separadamente, sobre o que ocorreu quando o pedreiro foi levado ao local. Após os relatos, o comboio seguiu para a casa da família de Amarildo. Antes, porém, foi feita uma parada no Centro de Comando e Controle da UPP, onde os agentes checaram imagens de câmeras de monitoramento.

Major chega sem farda e com advogado

Afastado do comando da UPP da Rocinha, o major Edson Santos — ainda no cargo até fim de suas férias e a nomeação de seu substituto — foi uma das figuras mais aguardadas. Assim como os demais PMs que participaram, Edson chegou no local sem a farda de serviço e acompanhado por advogado. Ele evitou entrevistas. O Ministério Público havia pedido uma ação civil pública com o afastamento de cinco PMs.

O advogado Marcus Espínola disse ontem que, na reconstituição, os policiais vão manter versões de depoimentos anteriores, de que Amarildo foi levado de um posto da UPP na Rua Dois até a sede, na localidade Portão Vermelho, onde teria sido liberado.

PM e Civil se desentendem

Prevista para começar às 15h, a reconstituição só teve início, de fato, às 18h50, quando já era noite. O atraso foi marcado por desentendimentos entre as polícias Civil e Militar quanto ao horário. Os 13 PMs que trabalharam na UPP no dia do desaparecimento foram embora às 15h55, cerca de 15 minutos antes de o aparato da Homicídios desembarcar na UPP. Quase três horas depois, eles retornaram por ordem do comando-geral da PM.

O advogado de alguns dos militares, Marcos Espínola, alegou que eles foram liberados por ordem do Estado-Maior. “Receberam um ofício onde deveriam estar à disposição a partir do meio-dia, mas esperaram quase quatro horas”, criticou o defensor. O delegado Rivaldo Barbosa disse que avisou ao major Edson Santos na sexta-feira sobre o horário certo.

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