Por marcello.victor
Rio - Centenas de silhuetas de corpos representando o número de assassinatos que ocorrem por ano no Estado do Rio de Janeiro foram pintadas no chão do Largo da Carioca, no Centro, por integrantes da campanha Juventude Marcada Para Viver, do Observatório de Favelas, na noite desta segunda-feira. O local fica a poucos metros da Avenica Chile, onde o comerciário Conrado Chaves da Paz, de 19 anos, foi assassinado com uma facada na madrugada de domingo.

Menos de 24 horas depois, um morador de rua foi esfaqueado e morto na Rua da Lapa, na madrugada de segunda-feira Na mesma região, uma ação conjunta da PM, Guarda Municipal e órgãos da Prefeitura apreendeu 39 adultos e 12 menores, na madrugada desta terça-feira.

Todos foram liberados. No entanto, dois homens foragidos da Justiça foram presos. Facas, tesouras e uma pequean quantidade de droga foram apreendidas. Por volta de 1h, no caminho para o Largo da Carioca, a equipe de O DIA circulou pelos Arcos da Lapa, Rua do Riachuelo, Rua Senador Dantas, Passeio Público e Avenida Chile e não encontrou viaturas da PM em patrulhamento.

Corpos são pintados no Largo da CariocaOsvaldo Praddo / Agência O Dia

O protesto no Largo da Carioca tinha sido antecipado pelo colunista Fernando Molica, no Informe do Dia, de 29 de novembro. Desde às 20h até o início da madrugada de terça-feira, cerca de 100 pessoas participaram da chamada Ação do Corpos. De acordo com o MC Valnei Succo, de 25 anos, aluno da Escola Popular de Comunicação Crítica (Espocc) do Observatório de Favelas, o objetivo da ação no Largo da Carioca é impactar as milhares de pessoas que transitam diariamente pelo local.

"Foram 50 mil mortes em 2012, sendo 27 mil de jovens. Desses, 18 mil foram jovens negros do sexo masculino. No Rio, quatro mil mortes, sendo 1.478 de jovens negros de 14 a 29 anos. Isso não é normal, isso não pode ser normal", disse o MC, com base no Mapa da Violência do ano de 2012.

Segundo ele, moradores de rua, usuários de drogas e menores receberam lanche e chegaram a ajudar na pintura do chão. Durante a madrugada era intensa a movimentação de adolescentes e menores, além de população de rua dormindo embaixo de marquises, como na Rua Uruguaiana. A primeira ação da campanha para a redução da violência contra jovens negros no Rio ocorreu no dia 10, no Parque de Madureira, com o recolhimento de uma petição pública para pressionar o governo do estado a rever a entrada da polícia em ações de combate ao tráfico de drogas nas comunidades carentes, com a utilização de veículos blindados e armas de grosso calibre.

Ação na Lapa apreendeu 39 adultos e 12 menoresOsvaldo Praddo / Agência O Dia

Outros dois protestos estão agendados para a campanha Juventude Marcada Para viver. No próximo sábado, no tradicional Trem do Samba, os integrantes vão vestir camisas do Brasil com a inscrição 'Amarildo Menos 1', para lembrar o desparecimento do pedreiro Amarildo dos Santos. Ele sumiu após ser abordado e levado por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da comunidade. No dia 9, também no Largo da Carioca, às 18h, o grupo promoverá o protesto Flash Mobi.

A intenção é fazer com que 400 pessoas ligadas a campanha se deitem no chão da praça simbolizando os mortos da violência urbana. Prefeitura diz que vai intensificar ações no Centro A ação desencadeada em decorrência dos últimos casos de violência no Centro e na Lapa - como a morte de Conrado e do morador de rua - reuniu policiais do 5º BPM (Praça da Harmonia), guardas municipais do Grupamento de Operações Especiais (GOE) e da 1ª Inspetoria, funcionários da Secretaria de Assistência Social, da 2ª Região Administrativa e da Subprefeitura do Centro e do Centro Histórico.

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Um dos principais alvos da ação foi a Avenida Chile, onde Conrado Chaves da Paz foi morto com uma facada no peito. Ele voltava de uma festa em uma boate na Lapa, por volta das 5h de domingo.
Moradores de rua foram levados para a 5ª DP (Gomes Freire)Osvaldo Praddo / Agência O Dia

A suspeita é de que o assassino seja um usuário de crack. O crime foi cometido próximo a uma cabine da PM. As equipes também estiveram nas ruas do Lavradio, Almirante Barroso e Primeiro de Março, entre outras. De acordo com José Henrique Pequeno Júnior, assessor do subprefeito do Centro Luiz Cláudio Vasques, as ações serão intensificadas na região para impedir atos de violência, repressão ao consumo de drogas, apreensão de material e recolhimento de população de rua e usuários de drogas. Os que aceitam ajuda estão sendo encaminhados a abrigos da Prefeitura.

"Estamos percebendo uma mudança em geral no perfil das pessoas apreendidas em nossas operações. Muitos criminosos estão infiltrados, camuflados entre a população de rua para praticar crimes", afirmou.
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Ainda segundo José Henrique cresceram os apelos de moradores, comerciantes e da Associação dos Hoteleiros para a intensificação de operações na região. Segundo a Subprefeitura, dos 41 adultos detidos, dois ficaram presos. Contra eles havia mandados de prisão. Outros 23 tinham passagem pela polícia. Foram apreendidos 12 menores, sendo dois em flagrante. Eles tinham roubado a bolsa de uma mulher. A vítima não quis registrar queixa.