Rio - O atleta de levantamento de peso Antônio Carlos Silva, 20 anos, conta ter vivido uma "situação extremamente desconfortável" no último domingo quando foi assistir ao jogo da Argentina contra a Bósnia no Maracanã. Segundo ele, após o gol do craque Lionel Messi, um torcedor argentino virou em sua direção, o xingou de macaco e ainda imitou gestos do animal. O atleta acionou policiais militares que localizaram o agressor. O argentino, identificado como Javier Nicolas Riello, foi levado para a 19ª DP (Tijuca) e preso pelo crime de injúria racial.
"As ofensas partiram de apenas um individuo só, logo após o segundo gol da Argentina. Ele fez gestos obscenos e em seguida começaram as ofensas raciais me chamando de macaco e fazendo gestos como se eu fosse um gorila", recorda.
Nascido na capital fluminense e morador de Teresópolis, na Região Serrana, o levantador de peso conta que o argentino já vinha provocando os torcedores brasileiros com gestos obscenos desde o começo da partida. Contudo, ele acredita que foi escolhido como alvo do torcedor em razão da cor de pele.
"O clima do jogo estava tenso, porque muito brasileiros estavam torcendo para a Bósnia e tiveram vários prelúdios de confusão em volta. Após uma falta mal cobrada pelo Messi, a torcida começou a gritar 'Olê Olá, Neymar' e aí vieram os gestos obscenos da parte dele. Quando veio o gol, ele fez os gestos racistas. Senti que fui escolhido a dedo por ele. Primeiro porque havia muito pouco torcedores negros na arquibancada e ele estava em volta de inúmeros torcedores argentinos", disse.
Após a agressão racista, Antônio conta que acionou um segurança da Fifa, que passou o caso para a Polícia Militar. Os agentes da PM começaram a procurar o argentino até encontrá-lo em outro ponto da arquibancada cerca de meia hora depois. Ele foi reconhecido por uma testemunha. Todos foram para a 19ª DP. O argentino foi preso pelo crime de injúria racial. Ele foi liberado após pagamento de fiança de R$ 2 mil.
Antônio foi campeão brasileiro sub-20 em 2012 e tem como recorde pessoal o levantamento de 220 kg (no total) na categoria arremesso. Ele admite que chegou a pensar em usar a força conta o argentino após a violência racista, mas preferiu tomar a atitude de procurar as autoridades ao lembrar das orientações que recebeu da família.
"Cheguei a pensar em agredi-lo sim, mas pensei muito no aprendizado que tive tanto em casa com minha família como na minha futura profissão, pois estou no sétimo período de Direito. Achei melhor chamar as autoridades legais do que partir para um confronto direto", comentou. Ele lembra que o torcedor agentino chegou a tentar escapar dos policiais.
"Quando a polícia o trouxe para reconhecê-lo, ele negou o fato, disse que não era ele. Quando ele fez as ofensas e saiu do local que estava, ele tirou o casaco que estava para poder dificultar o reconhecimento dele, mas meu tio que estava comigo no local e foi minha testemunha também o reconheceu pelo óculos que estava na cabeça, disse. "Ele não esperava que eu fosse chamar a polícia. Ele fugiu do local , tirou o casaco e quando foi pego me pediu desculpa cem mil vezes", completou.
O campeão brasileiro afirma que foi a primeira vez que sofreu uma agressão motivada por racismo. "Nunca tinha acontecido comigo uma situação desta em lugar algum. Nem mesmo na Argentina, lugar que fui nas férias em Fevereiro de 2011 com minha família e fui muito bem tratado por todos lá", disse.
Sobre o que tirou do episódio vivido no Maracanã, Antônio Carlos ressalta a importância da denúncia contra autores de crimes raciais. "O primeiro sentimento que eu tive foi de decepção e tristeza, porque você vai em um evento da grandeza de uma Copa do Mundo para curtir, se divertir e passa por uma situação desta extremamente desconfortável, dentro da própria casa".
"O racismo é real e está presente em qualquer classe social, país e local e dou o conselho que sempre houver algum tipo de injuria tanto racial, étnica, religiosa, sexual, não deixem para lá, procurem as autoridades e não deixem de denunciar, pois serve de lição e pode prevenir outros casos como o meu. É um fato muito ruim poque voce está dentro do seu país em um evento que trás o lema principal o combate ao racismo", concluiu.