Rio - Na estreia de Ramires na Copa, um pequeno time não parou um instante. Em Barra do Piraí, no Sul Fluminense, parte da família do meia da Seleção teve uma tarde de muito trabalho no quiosque comprado pelo craque para o irmão mais velho, Michael, de 31 anos. O primo era o garçom; a tia, cozinheira; as primas, balconistas. Já Michael cuidava do som da TV e recebia a clientela — cerca de 200 barrenses orgulhosos do filho famoso da cidade.
A mãe, Judith do Nascimento, 48, que era aguardada até o fim do jogo, preferiu assistir de casa, com o filho mais novo, Renan, 12, os quatro netos — entre os quais, a filha de Ramires, Camille, 9 — e alguns amigos e vizinhos. A mulher de Ramires, Islana Rosa, foi para Fortaleza acompanhar a partida.
No quiosque do Largo da Feira, decorado com motivos verde-amarelo e faixas com o nome do jogador, petiscos e muita cerveja gelada animavam a torcida. Enquanto driblavam o espaço apertado da cozinha para atender tantos pedidos, os parentes de Ramires encontravam um jeitinho para acompanhar pela TV os principais lances do duelo entre Brasil e México, que terminou no primeiro tempo para o meia, após um cartão amarelo.
Já na casa de Judith, o clima era mais comedido. “Fiquei aqui no meu canto, longe da confusão. Eu estava muito nervosa e preferi assistir à partida ao lado dos amigos e familiares. Ainda mais que, na véspera, o Ramires me ligou e falou que ia começar como titular. Fiquei muito feliz e desejei boa sorte a ele”, disse.
Ela revelou ainda a conversa que teve com o craque após o empate no Castelão. “Ele logo me telefonou e afirmou que havia gostado do jogo, mas lamentou o resultado. Meu filho se sentiu bem em campo e isso que importa. Ele terá mais chances durante o Mundial”, garantiu, otimista. Perto dali, enquanto se desdobrava para atender os clientes, Michael relembrava algumas histórias da infância.
“Desde que o Ramires nasceu, foi sempre colado comigo. Eu saía para jogar futebol com meus amigos e ensinava meu irmão os fundamentos. Desde pequeno, ele se destacava entre os amigos. Era muito melhor do que os outros. Aprendeu comigo também, né!”, brincou. Amigo da família, o pedreiro César de Lima, 44, preferiu analisar a atuação do camisa 16 e da Seleção como um todo. “Já sabia que ia ser duro. O México sempre engrossa contra a gente. O Ramires não foi muito bem. Acho que foi o nervosismo. Foi decepcionante, mas ainda vamos ganhar essa Copa”, apostou.
Bom também nos estudos
Há quatro anos, RamiresSantos do Nascimento, 27, foi comprado pelo Chelsea, da Inglaterra, por R$ 40 milhões. Até atingir a fama, porém, o menino franzino e veloz viveu uma infância pobre no interior. ‘Rambo’, como é chamado pela equipe londrina, enfrentou muitas lutas antes de se tornar um dos maiores ídolos de ingleses e brasileiros. Morava em uma casa humilde com mais 12 parentes. Com o irmão mais velho, dividia cama e roupas.
Na adolescência, quando o futebol era um sonho distante, foi servente de pedreiro. O tio, José Nascimento, 65, disse que o sobrinho, além de ser bom com a bola nos pés, também era excelente nos estudos. “O Ramires sempre foi um ótimo menino. Estudava e depois ia brincar no campo daqui. E ainda por cima, quando a gente precisava de uma mãozinha nas obras, ele ajudava. Ele é um exemplo.”
Ex-jogador do pequeno América, de Barra do Piraí, o meia serve de inspiração não só para os familiares, mas para as crianças da cidade. “Gosto muito do Ramires. Quando eu crescer, quero ser jogador igual a ele. Joga muito e nasceu e morou aqui como eu”, contou, orgulhoso, o estudante Christoffer de Souza, 7.