Rio - A partida entre o Brasil e o México ontem terminou no zero a zero, mas a euforia da torcida venceu de goleada. Nenhum dos lances difíceis do jogo foi suficiente para aplacar a animação de cariocas e estrangeiros, que vibraram unidos pelas festas Rio afora. Vinte mil torcedores lotaram as areias e o calçadão de Copacabana para assistir à partida no Fifa Fan Fest.
A decepção da torcida brasileira durou pouco. Bastou o cantor Dudu Nobre puxar clássicos do samba, que virou hora de pensar no próximo rival, Camarões, segunda-feira. Para um grupo de mexicanos, o empate teve sabor de vitória. “Estamos na liderança”, gritava sem parar Michel Pereira, gerente de um fabricante de tequila na Cidade do México, sem largar o sombrero. Pouco antes da partida, o otimismo verde-amarelo dava o tom. “Vai ser 3x1 Brasil”, previa o casal Ivone e Wilany Saboia, de 56 anos.
O casal, veterano em participar do Fan Fest deste 2006, usava chapéu feito de melancia e ornamentado com os títulos mundiais do Brasil. Confiante na vitória, o casal já até colocou o hexa no acessório. Na Tijuca, a tradicional festa do Alzirão reuniu 30 mil apaixonados por futebol. Com os olhos grudados no telão gigante, ninguém saiu do local, mesmo depois do jogo, na expectativa de aliviar a tensão da partida com os shows da bateria da Unidos da Tijuca e do funqueiro Naldo.
O empate não frustrou Antônio Alves, 58. Com um galho de arruda em uma mão e uma figa na outra, ele recorreu à fé para ver o Brasil ser hexacampeão. “A última vez que usei esses amuletos foi em 2002, quando ganhamos o penta. Desde então, tinha deixado de lado. Agora vou usar em todos os jogos porque foi o que trouxe a sorte”, disse, apostando que a Seleção será classificada em primeiro lugar. GALERIA: Torcida assiste a Brasil e México no Fifa Fan Fest
A Feira de São Cristóvão, centro de tradições nordestinas, recebeu cerca de 300 pessoas. O ambiente era um misto de São João com Copa do Mundo. A cada música, o grupo Gonzagão repetia o refrão: “Vamos lá, Brasil. Não dá mole, não. Quero gritar para o mundo inteiro. Eu sou hexacampeão”.
Quando o jogo começou, instrumentos ficaram no chão, e as atenções se voltaram para um telão. Em meio ao público, o espanhol David Silva, 40, era só animação. Casado com uma brasileira, ele mora em Goiás e viajou com a mulher para acompanhar a Copa no Rio. “Soube que tinha uma feira muito conhecida, com um clima bom para assistir ao jogo. Estou encantado”, elogiou o gringo, arriscando uns passos de dança.
No exterior, brasileiros não desanimaram
O empate não desanimou brasileiros que torceram do exterior. “A animação e esperança de jogos melhores e um bom resultado no Mundial é mais forte”, disse Helena Noonan, que mora na Califórnia e comemorou com a família e amigos do Brasil.
A quadra da Mangueira deixou de lado o verde-e-rosa e se coloriu de verde-amarelo para torcer. Os torcedores lotaram o espaço e vibraram a cada lance. O empate não tirou a alegria dos moradores, que confiam na classificação na segunda-feira. Os jogos da Seleção têm sido exibidos em telões na quadra da escola. Após as partidas há shows na comunidade, com entrada gratuita. Na Tijuca, irregularidades destoaram da festa: 31 carros foram rebocados, além de três brasileiros e um chileno multados por urinar na rua.
Empate vale como vitória
Um bar mexicano em Ipanema virou reduto dos torcedores da seleção adversária do Brasil, na tarde de ontem. Degustando a comida típica do país, cerca de 30 mexicanos comemoraram como vitória o empate na partida e garantiam: “Depois de empatar com vocês, agora já nos sentimos na final da Copa”, disse Francisco Díaz, 42 anos, natural de Puebla.
A cada defesa de Guillermo Ochoa, considerado o melhor jogador em campo, os mexicanos cantavam em coro o nome do goleiro e coreografavam a ‘ola’ nas mesas. Até os brasileiros entraram na onda. “A gente prefere margaritas (drinque típico do México) do que caipirinha, mas a torcida é pelo Brasil, claro”, disse Roberta Piersanti, 41, e Guilherme Gonçalves, 23. Entre margaritas e caipirinhas, a certeza é que a rivalidade fica apenas em campo. “Somos povos irmãos, e o Brasil é o meu segundo time no torneio”, afirmou a mexicana Jana Díaz, 42 anos.