Por bianca.lobianco

Rio - Nem todos os torcedores do Chile que invadiram o Maracanã antes do jogo contra a Espanha se deram mal. Enquanto 85 conterrâneos foram barrados e notificados pela Polícia Federal a deixar o país até a meia-noite de sábado, um chileno não só escapou da apreensão como conseguiu assistir à vitória da seleção de graça, nas arquibancadas do estádio.

Ao lado do amigo%2C chileno (de camisa azul) conta como invadiu estádioHerculano Barreto Filho / Agência O Dia

Para o autônomo, de 36 anos, que pediu para não ser identificado, foi o feliz desfecho de uma história de sacrifício em nome da paixão pelo futebol. Ele deixou Santiago, capital do Chile, para enfrentar uma viagem de 3,8 mil quilômetros até o Rio, com quatro dias de duração.

Horas antes do jogo, disse ter tentado comprar ingresso no lado de fora do Maracanã. Mas desistiu quando o cambista ofereceu o bilhete por R$ 2,5 mil. Sem dinheiro, ele decidiu fazer o possível para assistir a sua seleção e invadiu o estádio com os outros torcedores.

“Aí, a polícia chegou. Começou a bater e colocar torcedores para fora. Mas eu consegui passar”, sorriu, ao lembrar da história após assistir à vitória da Costa Rica contra a Itália, ontem à tarde, no Fifa Fan Fest, em Copacabana.

O chileno, que disse ter visto outros quatro torcedores escapando, ainda precisava passar por três roletas. Na primeira, passou pelo detector de metais e apresentou um bilhete encontrado no chão. Na segunda, passou direto. E, na terceira, conseguiu chegar à arquibancada porque alegou ter perdido o ingresso em meio à confusão.

“O estádio ainda estava vazio. Quando cheguei na arquibancada, comecei a chorar. Estava nervoso pela situação e emocionado. Fiquei uns dez minutos chorando. Foi o dia mais emocionante da minha vida!”, contou.

O chileno Rodrigo Jara, de 27 anos, que veio com o amigo no mesmo ônibus para o Rio, tomou outra decisão: foi à Copacabana para assistir ao jogo no Fifa Fan Fest. E, mesmo sem entrar no estádio, sentiu a energia da vitória com os conterrâneos aos gritos de “Chi-chi-chi. Le-le-le”.

Prazo para deixar o país

A Polícia Federal estipulou prazo de 72 horas para que os 85 chilenos, capturados enquanto invadiam o Maracanã, deixem o país. O prazo vence após a meia-noite de hoje. Caso não cumpram a determinação, os torcedores notificados, estarão sujeitos à deportação.

Depois de detido, na quarta-feira à noite, o grupo de chilenos foi levado à Cidade da Polícia, no Jacarezinho. Em seguida, eles foram encaminhados à sede do consulado, no Flamengo. A invasão ocorreu na altura do portão 9 da entrada B do estádio, área onde trabalham os jornalistas. Duas paredes foram derrubadas. Os torcedores acabaram contidos pelos “stewards”, seguranças particulares do Maracanã.

Estrangeiros culpam a Fifa por incidente

O DIA percorreu cada rodinha de amigos com camisas ou bandeiras do Chile, no Fifa Fan Fest, ontem à tarde, para ouvir os torcedores do país sobre a invasão ao Maracanã. Embora não tenha sido possível encontrar torcedores que entraram à força no estádio, a ação teve apoio da maioria dos ouvidos.

O comerciante Jonathan Uelis disse que só não tentou entrar porque estava com a filha de 5 anos. O contador Felipe Alarcon, 27, responsabilizou a organização da Copa pelo incidente. “Os torcedores viajaram de longe para ver o Chile e só encontraram ingressos com cambistas. Futebol é paixão. Isso é culpa da Fifa, que não colocou ingressos suficientes para os chilenos”.

O motorista Noe Spinoza, 53, que disse ter pago mais de R$ 1 mil a um cambista, tem a mesma opinião. “Os chilenos se sentiram frustrados e tentarem entrar de qualquer jeito”, justifica.

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