Rio - José Junior, coordenador da ONG AfroReggae, atribuiu a morte do ex-traficante Francisco Paulo Testas, o Tuchinha, ao pastor Marcos Pereira e ao traficante Marcinho VP. Tuchinha foi baleado na tarde desta terça-feira na Mangueira, Zona Norte do Rio, por dois homens em uma moto. Pelo menos cinco disparos foram feitos. Muito emocionado, José Júnior relatou que esteve com a vítima pela última vez em reunião na sede do AfroReggae ontem à noite, em Vigário Geral. Ele trabalhava no local desde 2011.
"As denúncias que eu faço há dois anos de ameaças aos integrantes do Afroreggae estão se concretizando. Há cerca de duas semanas eu participei como testemunha de acusação de audiência contra ele (pastor Marcos) e avisei ao juiz das ameaças. Eu e o Polegar, irmão do Tuchinha, chegamos a pedir para ele deixar a Mangueira. Ele disse que não deixaria o local. Trata-se de uma retaliação ao estado, à pacificação e ao AfroReggae". Entre lágrimas, José Junior afirmou ainda que tem em mãos os nomes do homem que dirigia a moto e do executor de Tuchinha e já os entregou às autoridades.
De acordo com Júnior, Tuchinha trabalhava como palestrante focado na retirada de traficantes da vida do crime."Sua ultima aquisição foi novamente fazer do Polegar um homem de bem", finalizou.
Em nota, o AfroReggae informou que "lamenta profundamente a morte de seu funcionário Francisco Testas Monteiro, o Tuchinha, assassinado hoje à tarde, onde ainda reside parte de sua família. Há três anos, depois de cumprir 21 anos de prisão, o ex-chefe do tráfico no morro trabalhava na ONG, integrando as equipes dos programas Segunda Chance e Comandos.
Na agência de empregos Segunda Chance, atuava diretamente na mediação de conflitos com traficantes que gostariam de se entregar e ingressar no mercado de trabalho. Realizava também visitas a presídios para encaminhar futuros egressos para serem atendidos no programa - que tem como objetivo principal a reinserção de ex-presidiários na sociedade. Já no projeto Comandos, Tuchinha participava de debates em escolas e faculdades do Rio de Janeiro, discutindo com a sociedade a verdadeira realidade da segurança pública brasileira.
Ainda na tarde desta terça-feira, Guilherme Augusto Souza Nascimento foi baleado na Rua Jupará, duas ruas acima de onde Tuchinha foi atingido, e encaminhado para o Hospital Municipal Souza Aguiar, onde já chegou morto. Segundo agentes da Delegacia de Homicídios (DH), Guilherme foi atingido por mais de 20 tiros. Os policiais investigam a morte da vítima.
LEIA MAIS: Líder do AfroReggae diz que pastor Marcos foi pombo-correio do tráficoLEIA MAIS: 'Todo ataque ao AfroReggae tem envolvimento do pastor Marcos'
Vítima lavava o carro quando foi atingida
A confirmação foi feita pela assessoria da Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP). Por volta das 14h30, PMs da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Mangueira receberam a informação de que um homem teria sido morto na Rua da Prata, na região do Morro dos Telégrafos. Lá constataram que a vítima era o ex-traficante.
De acordo com moradores da região, Tuchinha estaria acabando de lavar seu carro, uma Land Rover Discovery placa KNU-5272 na cor verde musgo, na Rua da Prata, quando foram ouvidos pelo menos cinco tiros. Agentes da Divisão de Homicídios (DH) da Capital estiveram no local, mas tiveram dificuldades para iniciarem a perícia, já que os familiares do ex-traficante queriam chegar próximo ao corpo. Parte do comércio no local ficou fechado.
Tuchinha deixou a prisão em 2011, quando passou a trabalhar com o Afroreggae. Em outubro daquele ano, ele esteve na Mangueira para dar uma palestra onde contava sua história. Segundo o ex-traficante, ele queria mostrar aos jovens que o crime não compensa e que todos podem mudar de vida. “Perdi minha juventude na cadeia. Me arrependo. Quero mostrar aos jovens que o crime não compensa para que eles não precisem sofrer na carne o que eu sofri”, disse.
Na ocasião, ele relembrou como entrou para o crime. Ele disse que o motivou foi vender um carro a ‘gerente’ do tráfico na Mangueira e não receber o dinheiro. “Tomei o carro, e ele ameaçou me matar. Passei a andar armado para me defender e parei de trabalhar. Depois, comecei a roubar”, contou ele, que após convite do cunhado, Ricardo Gonçalves da Silva Gomes, o Ricardo Coração de Leão, virou traficante. “Trabalhava muito e fiz o lucro aumentar”, disse o ex-integrante do Comando Vermelho.
Tuchinha mudou de facção e, quando foi preso, ficou em cela sozinho por medo de morrer. Ele conta que teve receio de ser morto por policiais para quem, segundo ele, perdeu mais de R$ 1 milhão após sequestro