Por thiago.antunes
Rio - A greve de funcionários terceirizados da limpeza e segurança da Uerj está colocando em risco doentes internados, médicos e enfermeiros do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), em Vila Isabel. Ontem, uma enfermeira que pediu anonimato denunciou que o lixo está espalhado pelo chão e há fezes acumuladas nos banheiros. Uma doente com uma bactéria ainda não diagnosticada sofreu um acidente quando recebia medicação na veia e o sangue dela ficou espalhado no chão, sem ser limpo.
“A situação é de horror. O cheiro do lixo, insuportável. Falamos com a direção do hospital e com os poucos supervisores da limpeza, mas eles dizem que só podem recolher o excesso, pois não têm mão de obra disponível”, contou a profissional de saúde, que tem nove anos de experiência e está há seis no Hupe.
Sem o serviço de limpeza%2C interrompido por falta de pagamento%2C o sangue de um paciente fica no chãoFoto do leitor

Duas mulheres, internadas na enfermaria 13 da Clínica Médica, não suportaram a situação e se uniram para recolher o lixo do local. “Eu estou com infecção e cálculo renal e falei para o médico: se é pagar pegar bactéria, prefiro ir para casa e ficar só com a que eu tenho na minha infecção”, disse a manicure Luciana Magno, 33, moradora de Maricá.

“A minha vizinha de cama e eu tiramos o lixo, mas fico com medo. Ela está fazendo diálise”, relatou a manicure sobre Taianne Oliveira, 19, que estava ligada à máquina de hemodiálise e não pôde falar com O DIA, mas mandou dizer que desconfia que, pelos relatos dos médicos que a atendem, adquiriu infecção hospitalar na unidade.

Em todo o canto%2C as marcas da sujeira%3A risco de mais infecções Foto de leitor

O Sindicato dos Médicos entra na segunda-feira com uma queixa-crime no Ministério Público do Estado do Rio por causa da situação do Hupe. “Diante da situação calamitosa e a incapacidade de gestão pública, é o que nos cabe fazer contra a Reitoria da Uerj, a Secretaria estadual de Saúde, o governo do estado e, subsidiariamente, o Ministério da Saúde, já que há verba federal nesse hospital que tem a importância de ser formador de recursos humanos, área de pesquisa e atendimento de alta complexidade. É um absurdo”, criticou o presidente do sindicato, Jorge Darze.

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A reportagem tentou contato com a reitoria, mas não obteve resposta. O reitor Ricardo Vieiralves de Castro antecipou o recesso, que começaria na segunda, para a quarta-feira passada por falta de limpeza e segurança no campus do Maracanã.
Alimentação pode estar prejudicada

Para o presidente do Sindicato dos Médicos, Jorge Darze, o problema pode ser ainda maior. “Se há problema na limpeza, o que é gravíssimo no tocante ao controle de infecções hospitalares, pode muito bem haver problema também na alimentação e na segurança”, questionou.

A limpeza dos acessórios usados nos pacientes está precáriaFoto do leitor

Enquanto trabalhadores e pacientes internados do Hospital Universitário Pedro Ernesto convivem com lixo e sangue, o reitor Ricardo Vieiralves de Castro e o diretor da Construir Arquitetura, Júlio Diniz, que presta o serviço de limpeza, discutem sobre as responsabilidades de cada um.

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Na terça-feira, o reitor reconheceu que o rombo nos cofres da instituição chega a R$ 23 milhões e que não pagou a Diniz. Mas um dia depois, a Uerj afirmou que processaria a prestadora de serviço.Júlio Diniz respondeu que só quer receber os atrasados para quitar os salários e acabar com a greve.
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