Por thiago.antunes
Rio - A lista com nomes de funcionários fantasmas da Prefeitura de Itaguaí ficava num computador que tinha um programa que deletava em segundos o arquivo. A estratégia era para apagar no menor espaço de tempo qualquer pista de irregularidade, caso a polícia entrasse de surpresa na sede do município, como aconteceu na quinta-feira, durante a Operação Gafanhoto, da Polícia Federal (PF).
Para não ficar sem as informações, a quadrilha, que contava com o aval do prefeito Luciano Mota (PSDB) e é suspeita de desvio de verba pública, tinha em 13 pastas a cópia, feita manualmente, de toda lista. Foi uma funcionária do Centro de Processamento de Dados, da Secretaria Municipal de Administração, que entregou as pastas para a PF. Em cada uma delas, havia a inicial de um nome, que seria de vereadores que apoiam a gestão de Mota. O material ficava numa sala de acesso restrito e monitorada. “Cada pasta tem a ver com um vereador. Ela disse que nunca viu nenhuma daquelas pessoas (da lista), especialmente no prédio da prefeitura”, explicou o delegado Hylton Coelho.
Agentes da Polícia federal chegaram nesta sexta à sede da Prefeitura de Itaguaí para cumprir mandados de busca e apreensão de documentosSeverino Silva / Agência O Dia

Uma das suspeitas é que os parlamentares envolvidos tinham uma ‘mesada’entre R$ 80 mil e R$ 100 mil com as contratações fantasmas. O dinheiro seria resultado da parte do salário que cada um deles ficava do ‘funcionário’ contratado. A Polícia Federal acredita que o rombo nas contas de Itaguaí, com o esquema de pagamentos indevidos, pode chegar a R$ 1,5 milhão por mês.

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Com a Operação Gafanhoto, da PF, as investigações, que já duram seis meses, tomam um rumo importante. Isso porque, segundo o delegado, pelo menos duas empresas estariam recebendo irregularmente dinheiro provenientes dos royalties de petróleo. Uma delas atua com a manutenção da rede de iluminação do prédio da prefeitura e tem contratos que somam cerca de R$ 27 milhões.
A outra recebe mensalmente R$ 1,32 milhão para fazer terraplenagem. A farra na prefeitura envolvia não apenas alguns vereadores, mas secretários e empresários. Todos integravam um esquema que lesava o erário, segundo o delegado, entre R$ 10 milhões e R$ 30 milhões por mês. A prefeitura nega as acusações.
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Nesta sexta-feira, o clima na cidade era de alívio entre os moradores e receio, porque muitos são funcionários da prefeitura. Não há mandado de prisão contra o prefeito, mas ele tem que comparecer à PF para prestar esclarecimentos. Até a noite de ontem, ele ainda não tinha se apresentado.
PF pede quebra de sigilos
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A PF pediu à Justiça Federal a quebra dos sigilos bancário e fiscal do prefeito, secretários e de empresas envolvidas no esquema de fraude. De acordo com o delegado Hylton Coelho, essas informações vão ajudar a rastrear o dinheiro que era desviado do município. Por enquanto, sabe-se que Luciano Mota mantinha uma vida de luxo e que raramente colocava os bens em seu nome.
Somente com ternos de uma grife alemã, ele gastou R$ 45 mil. Quantia paga em espécie. Ele também fazia uso de uma Ferrari, helicóptero e seria o proprietário de uma mansão no condomínio Sahy, em Mangaratiba. Nesta sexta, ocorreu a chegada do Papai Noel numa festa natalina na rua da prefeitura. Mota, até o início da noite, não havia aparecido no evento, que é do município. Estavam presentes apenas os secretários de Turismo, Ricardo Luiz Rosa Soares, que já foi indiciado pela PF, e de Educação, Nilce de Oliveira.
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