Estrangeiros que adotaram o Rio entram no clima das celebrações de natalinas
Famílias de estrangeiros que vivem no Rio de Janeiro se adaptam aos costumes locais para celebrar a festa cristã
Por bianca.lobianco
Rio - Os pinheiros naturais perderam espaço para as árvores de plástico. A paisagem coberta pela neve e as temperaturas abaixo de zero do inverno europeu deram lugar a um sol escaldante, termômetros nas alturas e praias lotadas de turistas. Os assados de carneiro e os doces típicos da culinária árabe, italiana e alemã agora dividem espaço na mesa com o peru, o chester, as rabanadas, os panetones e muitas frutas tropicais.
Às vésperas da maior festa cristã, estrangeiros que adotaram o Rio de Janeiro para viver e formar família entram no clima das celebrações natalinas, incorporando hábitos cariocas sem deixar de lado costumes típicos de seus países de origem.
Família da alemã Annette vai passar pela primeira vez o Natal no RioAlexandre Brum / Agência O Dia
Casada com um brasileiro e há dois anos no Rio, a professora de alemão Annette Lehnert Crisafulli, de 29 anos, confessa que estranhou, no início, os hábitos dos moradores para festejar o nascimento de Jesus.
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“Em Berlim, onde vivia, agora deve estar menos 5 graus. A atmosfera é bem diferente e todos ficam amigáveis com a aproximação do Natal. A cidade se ilumina e há mais de cem feiras de produtos natalinos. Sinto falta das amêndoas caramelizadas e do chocolate quente. Na noite do dia 24, as famílias se reúnem para cantar canções natalinas. Aqui tudo é bem diferente. Mas gosto do temperamento dos brasileiros, são mais alegres. Eles festejam e vão à praia. É muito estranho”, diverte-se Annette. Ela vai passar o Natal ao lado do marido, pais e irmão, que acabam de chegar à cidade.
“Vão levar um choque térmico. Será o primeiro Natal deles no Rio. Se pudesse, meu pai teria trazido um pinheiro no avião”, brinca a alemã, que fará os tradicionais biscoitos de Natal muito comuns na Alemanha nesta época do ano. “Vou comer também a rabanada, que eu adoro. É a melhor coisa”, diz Annette.
O sírio Ericson faz ceias por encomenda e celebra a data com churrasco de cordeiro e danças folclóricas Alexandre Brum / Agência O Dia
PEDIDOS A SÃO NICOLAU
Festivos como os brasileiros, os descendentes das famílias sírio-libanesas na cidade pretendem se reunir no dia 25 em volta de uma mesa farta de comidas árabes. “Somos de uma família cristã ortodoxa que preserva o presépio e monta árvore de Natal. Também temos o hábito de trocar presentes. As crianças escrevem cartinhas pedindo presentes a São Nicolau”, conta o sírio Ericson Ibrahim Khalil. Na noite de Natal, o membro mais velho da família reúne toda a família antes da ceia e faz um pedido, em árabe.
“Homens e mulheres fazem uma roda e todas dançam o Dabke, uma dança folclórica presente nas festas de fim de ano”, descreve Ericson. No dia 25, a festa segue com churrasco de cordeiro. As iguarias não ficam restritas aos parentes. O empresário,que é dono do café Manakish, no Humaitá, faz ceias por encomenda de comidas típicas ao gosto do freguês.
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Ceia italiana e presépio
Na casa de dona Rosina Lambruna, de 70 anos, em Niterói, o Natal é uma das datas mais aguardadas do ano. É quando toda a família se reúne para preparar pratos típicos da culinária italiana e montar o presépio, ponto alto da festa, confeccionado por ela e montado há mais de 20 anos. Uma tradição que a filha Rosângela Comunale faz questão de preservar.
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“Na noite de Natal, assistimos à Missa do Galo e de lá vamos todos juntos para a ceia na casa dos meus pais. É um ritual que eu acompanho desde criança”, disse Rosângela. De todos os povos, os italianos são os mais fiéis ao significado original do dia santo. Foram os romanos os primeiros a celebrar o nascimento de Cristo em 25 de dezembro.
Como toda família italiana, a religiosidade e a gastronomia andam de mãos dadas. No Brasil há 46 anos, Rosina não abandonou as receitas seculares passadas de geração para geração, como as rosquinhas Zeppole — uma versão do nosso bolinho de chuva — e o Struffoli, doce quase obrigatório na ceia de Natal dos italianos.
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“O maior presente é ter toda a família reunida”, conta Rosina, que guarda lembranças da Itália. “Lá o Natal é com neve. A gente acende a lareira e a Missa do Galo é a meia-noite; aqui é às 20h”, diz ela.