Por bernardo.argento
Disque-denúncia oferece recompensa de R$ 50 mil por informações sobre PlayboyDivulgação

Rio - Uma desavença entre moradores do Complexo da Pedreira nunca é resolvida pelos próprios envolvidos. Naquela comunidade e em outras quatro vizinhas, a vida e os problemas de todos sofrem a interferência de Celso Pinheiro Pimenta, o Playboy. Muito além de ser o traficante mais procurado do Rio, o criminoso acredita que tem o poder de mudar o destino das pessoas e até mesmo a geografia da cidade. Em sua sede de expandir o domínio de territórios, impôs às comunidades a sua própria lei: levou um dos moradores da discussão citada acima para a localidade conhecida como Mangueira e calou os apelos do trabalhador num julgamento cruel. O corpo foi esquartejado e, desde 2012, somente metade foi encontrado.

O caso é mais um na lista de atrocidades cometidas pelo traficante, que tem 16 mandados de prisão pendentes em sua extensa ficha criminal. Como o roubo e devolução posterior de quase 200 motos de um depósito do Detro, na semana passada. Em demonstrações de um assistencialismo ilegal, convocou a comunidade para levar os veículos como presente de Natal. Em outros casos, distribuiu entre a população cargas e mais cargas dos produtos que mandou sua quadrilha roubar.
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Depois da chegada de Playboy, o triângulo formado pelos bairros de Costa Barros, Barros Filho e Guadalupe se transformou num inferno para a população. Por um lado, tiroteios constantes e a truculência deixam moradores em pânico.

“A gente tem medo até de andar de cabeça erguida, porque eles podem chamar a atenção, esculachar. Em alguns lugares, proibiu até o uso de fone de ouvido porque acha que a gente pode passar informação para a polícia. Quem é de bem, quer que ele seja preso, que vá para bem longe e nos deixe viver em paz”, contou um morador, que vive na Pedreira há cerca de 15 anos.

O medo dos moradores não é para menos. O bandido que impõe sua vontade na ponta do fuzil tem pelo menos 200 dessas armas somente no Morro da Pedreira, de acordo com policiais.

“É uma das quadrilhas mais bem armadas atualmente. À medida em que a facção dele (Amigos dos Amigos/ADA) perdeu espaço, Playboy foi montando um arsenal para recuperar território. Tanto que, em locais que ele invadiu, como a comunidade Proença Rosa, a facção rival desistiu da briga”, revelou um agente que investigou o criminoso durante cinco anos.

Em outro aspecto, os roubos promovidos pelos comparsas de Playboy tiram o sustento de trabalhadores e afastam as empresas da região. Tanto que, ainda de acordo com investigações, ele vem expandindo sua atuação em direção à Avenida Brasil, ponto mais visado pela quadrilha para assaltar. De janeiro a novembro do ano passado, foram registrados 508 roubos de cargas, dos mais diversos produtos, naquela região. A maioria dos crimes foi cometida pelo séquito do traficante.

Reboques deixaram o Morro da Pedreira na última sexta-feira com dezenas de motocicletas. Cerca de 300 agentes participaram da açãoSeverino Silva

Sérviços básicos não chegam

Os desmandos do traficante dentro da comunidade da Pedreira fizeram com que o local parasse no tempo e se tornasse um local insalubre quase em sua totalidade. Nos domínios do bandido, o progresso não chega, assim como os serviços básicos para a qualidade de vida da população, como saneamento, coleta de lixo e asfalto. Pelas ruas, o esgoto corre a céu aberto, misturando-se aos detritos e à proliferação de animais.

Até o faturamento dos comerciantes sofre perdas. “Quando ele quer, manda fechar o comércio e as barracas. A gente fica sem trabalhar e nem sabe o motivo. É muito difícil sustentar a família e ganhar a vida aqui”, contou o dono de uma venda de lanches. Para funcionar dentro da comunidade, outros serviços, como água, gás, TV a cabo e até o transporte alternativo, também passam pela ingerência do criminoso.
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Vaidoso e bastante exibicionista
Vaidoso e exibido, Playboy não tem o menor pudor de se exibir. Para isso, usa as redes sociais, internet e até os muros da comunidade, onde faz pichações e desenhos em homenagem à quadrilha. Pelas ruas, anda livremente e desarmado: ele não precisa se preocupar com a segurança, já que circula acompanhado por pelo menos dez comparsas portando fuzis.
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Só faz questão de segurar armas em invasões de comunidades rivais, quando ele faz questão de estar à frente do bando. Em sua ostentação, posou com armas pesadas dentro da piscina de uma vila olímpica que ocupou, além de dar ‘entrevistas’ em jogos de futebol e mandar ameaças para rivais.
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