Rio - No meio acadêmico seria chamado de apropriação histórica do espaço. Mas moradores de Bangu, na Zona Oeste, preferem definir com uma palavra apenas: identificação. Um grupo de banguenses está elaborando um projeto a ser enviado à prefeitura, para que as ruas dos bairro — que têm nomes genéricos — sejam rebatizadas. A mudança seria uma homenagem aos personagens que tiveram alguma relação com a história daquela região.
O idealizador do projeto é o professor de Educação Física Rogério Melo, de 62 anos, que se considera um apaixonado por Bangu. Ele contou que a ideia surgiu em um passeio, quando saiu com uma câmera fotográfica e o intuito de pesquisar a história dos logradouros.
“Muitas ruas têm nomes sem ligação com o que é nosso. Temos uma história riquíssima, e acredito que seria resgatada caso homenageássemos nossos próprios personagens”, disse Melo.
Alguns exemplos de ruas que poderiam ceder seus nomes para as alterações, segundo o idealizador do projeto, são a Boiobi, Feira e Sul América. O projeto também vai pedir que a prefeitura coloque placas com os novos nomes e que expliquem quem são os personagens.
Do pioneiro ao campeão
Nomes já foram estudados para serem homenageados neste projeto. Inclusive alguns deles já até contam com sugestões de logradouros em que podem ser “acomodados”.
É o caso da atual Rua da Fábrica, que seria rebatizada de Thomas Donohoe, escocês que foi funcionário da Fábrica Bangu, trouxe o futebol para o Brasil e realizou a primeira partida do esporte no terreno da fábrica. Há uma estátua dele no shopping do bairro.
“A casa onde ele morou está em pé e fica justamente na Rua da Fábrica, por isso dar à rua o nome de Donohoe”, justificou Melo.
Outros nomes sugeridos são de jogadores de futebol que atuavam pelo time do Bangu. Domingos da Guia, que jogou a Copa do Mundo de 1938, tem um busto no calçadão do bairro e seu nome é citado no Hino do Bangu. Já Zózimo foi bicampeão mundial em 58 e 62. O grupo também quer homenagear Francisco Carregal, primeiro negro a jogar futebol profissionalmente no Brasil.
Nomes próprios vão ser mantidos
Essa não seria a primeira vez que os nomes de ruas do bairro seriam trocados. De acordo com Rogério Melo, que faz pesquisas para o Grêmio Literário de Bangu, mudanças já aconteceram antes. Um dos homenageados, por exemplo, foi o ex-presidente do Bangu Atlético Clube e ex-Ministro do Supremo Tribunal Federal Ari Franco que, após a sua morte, emprestou o nome para substituir a então Estrada do Retiro.
Para não criar atrito com parentes de pessoas que já são homenageadas no bairro, mesmo sem ter tido relação com Bangu durante suas vidas, o projeto não pretende sugerir que logradouros com nomes próprios sejam substituídos. Porém, o grupo quer que as mudanças aconteçam em vias centrais do bairro. Como o movimento nessas vias é maior, a história de Bangu seria expandida de forma mais rápida.