Por felipe.martins

Rio - A mesma escola que ficou em primeiro lugar no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), no Rio, e em sétimo no Brasil, também amargou, em outras unidades, o 267º lugar no estado e o 2217º no país, de acordo com a lista divulgada na quarta-feira. Levantamento feito pelo DIA constatou o desequilíbrio: enquanto teve desempenho muito bom em três de seus colégios, o Pensi registrou performance apenas mediana em outras escolas da rede.

As melhores unidades do Colégio Pensi ficam na Tijuca, Icaraí e Vila da Penha e as piores em Madureira e no Recreio. Para o pedagogo mestre em Educação pela UFRJ e doutor em Ciências da Educação, professor Julio Furtado, o que o Pensi faz é uma “jogada de marketing” para ficar nas primeiras colocações do ExameNacional de Ensino Médio.

“É um artifício institucional novo, de abrigar os melhores alunos em algumas unidades para ocupar os primeiros lugares da lista. Algumas escolas de São Paulo também fizeram isso. Por esse motivo, o Enem não é um bom critério para saber se a escola tem qualidade”, afirma Furtado.

Professores do Pensi buscam melhores resultados e investem na rigidez do ensino%3A turmas especiais para os melhores alunos da escolaDivulgação

Em maio, O DIA publicou uma reportagem que mostrava a rotina de alunos confinados do Pensi Tijuca. Em alojamentos mantidos pelo colégio, eles estudavam 14 horas por dia, sem direito à TV ou a jogos eletrônicos. O diretor do Pensi, Fábio Oliveira, explica a diferença de posições entre as unidades da escola se deve ao fato de que algumas são mais antigas que as outras. Por isso, alunos que estariam desde o início da sua vida escolar no Pensi teriam um desempenho melhor dos estudantes entraram apenas recentemente.

“Os alunos das unidades mais antigas já têm a bagagem Pensi, o estímulo de estudo, a pressão, por isso as escolas antigas vão melhor. Além disso, não tem tanta entrada de aluno novo, como ocorre nas mais novas”. Oliveira também admite que o fato de algumas unidades terem turmas especiais preparatórias voltadas para os exames de IME e ITA, instituições militares de educação, também pode influir para que o desempenho delas sejam melhores. Porém, afirma que todas as unidades têm o mesmo corpo de professores e a mesma grade curricular.

Incentivo da família ajuda no resultado

Segundo a pedagoga da Uerj e pós-graduada em políticas públicas, Bertha do Valle, contribuem para o resultado diferente das unidades da mesma escola o desempenho dos alunos, a orientação e incentivo da família e as suas localizações. “Na Zonal Sul, que a concorrência entres as escolas é muito grande, o desempenho da unidade pode ser menor do que em um local com poucas opções de escolas boas”, avalia. Mesmo assim, Bertha afirma que uma classificação no Enem pode aumentar a procura por determinada unidade. “Os pais vão concluir que aquela escola prepara bem para o vestibular”, disse.

Só Enem não é parâmetro de boa escola

Para o professor Paulo Alcântara Gomes, ex-reitor da UFRJ e integrante do Conselho Estadual de Educação, o Enem virou apenas um teste classificatório para as universidades e não pode ser levado em conta, sozinho, para ser parâmetro de uma boa escola.

“Também devem ser analisados os índices de reprovação da escola e a qualificação dos professores”, analisa o docente. Para ele, os pais também devem buscar o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) que mede a qualidade do Ensino fundamental e não apenas os resultados do ENEM. “O IDEB é mais global”, diz Alcântara.

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