Por gabriela.mattos

Rio - Os três grafiteiros torturados por vigilantes na madrugada de sexta-feira, no Centro do Rio, prestaram depoimento nesta quinta-feira na 4ª DP (Central) e contaram novos detalhes da barbárie sofrida que não aparecem no vídeo veiculado quarta-feira. O caso aconteceu na Rua da Alfândega, próximo ao número 351, e foi registrado como tortura.

No local onde grafiteiros foram agredidos%2C na Saara%2C as marcas da barbárie ainda permanecemAlexandre Brum / Agência O Dia

Segundo o depoimento, que O DIA teve acesso com exclusividade, Os três revelaram que a tortura durou cerca de uma hora, que foram ameaçados de morte, tiveram até os órgãos genitais pichados e foram obrigados a abrir a boca para engolir a tinta spray e a sair correndo do local apenas de cuecas. Um deles teve a perna quebrada em dois lugares pelos golpes. Devido ao ferimento, caiu quando fugia e levou dois golpes pelas costas de barra de ferro.

Um deles contou que levou tanta pancada na cabeça que poderia ter morrido se não tivesse se protegido com as mãos. Eles contaram que correram até a Central , onde vestiram a bermuda, entraram num ônibus e foram para casa aterrorizados. Revelaram que eram sete agressores, mas dois ficaram na esquina para evitar que alguém presenciasse a tortura.

Grafiteiros agredidos na Saara prestaram depoimento nesta quinta-feiraCaio Barbosa / Agência O Dia

De acordo com eles, o grupo falava o tempo todo pelo rádio com outras pessoas e não se chamavam pelo nome, mas por apelidos como 01 e 02 e que o carro em que chegaram, um Ômega preto com placa de São Paulo, era chamado de caveirão (referência aos blindados da polícia).

Na saída, apenas um deles, de 21 anos, que teve a perna esquerda fraturada, falou com jornalistas: “O único sentimento que eu consigo ter neste momento é de revolta. Não só por mim, mas por todo mundo que já sofreu e continua sofrendo isso na minha cultura (hip hop).”

Garantiu ser um pacifista, sem envolvimento com violência. “Com tinta você não mata ninguém, não rouba ninguém. Faço parte de uma das vertentes do hip hop que tem como objetivo incentivar alertar as pessoas.”

Segundo o relato de uma das vítimas, o agressor que filmou a tortura disse que eles ficariam famosos porque o vídeo seria colocado nas redes sociais.
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Os garotos disseram que pararam no local com a intenção de grafitar, mas que não chegaram a pintar nenhuma parede porque foram logo abordado pelos torturadores. Eles contaram que tinham quatro latas de tinta spray e duas de tinta látex, usada, de acordo com eles, nos muros antes que ele seja grafitado.
Os grafiteiros chegaram à delegacia acompanhados do advogado Carlos Viana e do vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, André Barros. “O local é conhecido e está tudo filmado. A polícia vai encontrar quem cometeu a tortura e quem está pagando por este serviço”, disse.
Jovens tiveram corpos pintados com tintas spray e foram agredidos com barra de ferroReprodução Vídeo

Para Cristine Nicolay, coordenadora EixoRio, instituto de articulação entre a Prefeitura do Rio e movimentos de arte urbana como o grafite, esteve na delegacia: “A prefeitura é a favor do grafite.” A Saara informou que os torturadores não são seguranças da entidade. “A segurança dos nossos clientes é feita de segunda a sábado, durante o funcionamento das lojas. Não havendo, porém, controle sobre a contratação de segurança privada por parte dos lojistas.” 

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