Rio - Os três grafiteiros torturados por vigilantes na madrugada de sexta-feira, no Centro do Rio, prestaram depoimento nesta quinta-feira na 4ª DP (Central) e contaram novos detalhes da barbárie sofrida que não aparecem no vídeo veiculado quarta-feira. O caso aconteceu na Rua da Alfândega, próximo ao número 351, e foi registrado como tortura.
Segundo o depoimento, que O DIA teve acesso com exclusividade, Os três revelaram que a tortura durou cerca de uma hora, que foram ameaçados de morte, tiveram até os órgãos genitais pichados e foram obrigados a abrir a boca para engolir a tinta spray e a sair correndo do local apenas de cuecas. Um deles teve a perna quebrada em dois lugares pelos golpes. Devido ao ferimento, caiu quando fugia e levou dois golpes pelas costas de barra de ferro.
Um deles contou que levou tanta pancada na cabeça que poderia ter morrido se não tivesse se protegido com as mãos. Eles contaram que correram até a Central , onde vestiram a bermuda, entraram num ônibus e foram para casa aterrorizados. Revelaram que eram sete agressores, mas dois ficaram na esquina para evitar que alguém presenciasse a tortura.
De acordo com eles, o grupo falava o tempo todo pelo rádio com outras pessoas e não se chamavam pelo nome, mas por apelidos como 01 e 02 e que o carro em que chegaram, um Ômega preto com placa de São Paulo, era chamado de caveirão (referência aos blindados da polícia).
Na saída, apenas um deles, de 21 anos, que teve a perna esquerda fraturada, falou com jornalistas: “O único sentimento que eu consigo ter neste momento é de revolta. Não só por mim, mas por todo mundo que já sofreu e continua sofrendo isso na minha cultura (hip hop).”
Garantiu ser um pacifista, sem envolvimento com violência. “Com tinta você não mata ninguém, não rouba ninguém. Faço parte de uma das vertentes do hip hop que tem como objetivo incentivar alertar as pessoas.”
Para Cristine Nicolay, coordenadora EixoRio, instituto de articulação entre a Prefeitura do Rio e movimentos de arte urbana como o grafite, esteve na delegacia: “A prefeitura é a favor do grafite.” A Saara informou que os torturadores não são seguranças da entidade. “A segurança dos nossos clientes é feita de segunda a sábado, durante o funcionamento das lojas. Não havendo, porém, controle sobre a contratação de segurança privada por parte dos lojistas.”