Por felipe.martins

Rio - Dizem que não adianta colocar o cadeado depois da porta arrombada. Como quase todo dito popular, a afirmação faz sentido, pois no Brasil é isso o que acontece. É preciso o fato acontecer para depois haver mobilização para resolver o problema. Uma rotina de ‘apagar incêndios’ e não de promover ações preventivas que podem evitar consequências trágicas.

O resgate de um bandido no Souza Aguiar trouxe à tona uma distorção de valores que passa despercebida. A polícia militar foi constituída para a manutenção da ordem pública, e não para o confronto com grupos fortemente armados e treinados por narcoguerrilheiros.

O hospital, com trânsito de milhões de pessoas, não é local apropriado para receber um traficante. Uma ação para evitar esse resgate poderia ter proporções ainda mais graves. Infiltrar policiais para surpreender os mais de 20 bandidos invasores seria a mesma coisa de promover uma pacificação numa comunidade sem aviso prévio, ou seja, expondo os moradores inocentes.

Certas atitudes que a população julga serem erradas são estratégicas, caso contrário depararíamos com um número maior de carnificinas, pois os marginais são destemidos e pouco se importam com o cidadão. Temos que isentar a PM porque a situação vivida na maioria das capitais, dentre elas o Rio, é critica e carece de planejamento federal para maior suporte aos estados. A manutenção da ordem significa enfrentar grupos paramilitares com armas de guerra. A situação no Brasil é mais complexa do que em países com guerrilhas estabelecidas, como a Colômbia, pois lá elas são identificadas. Por aqui a história é diferente, pois se tratam de várias ramificações distribuídas em toda a parte. Facções organizadas e estruturadas, porém sem cara. O inimigo está em toda parte.

Segurança é um problema nacional. Pena que foi preciso um episódio como esse para ser liberada verba para a segurança no Rio e, mesmo assim, sob o argumento da Olimpíada. Mas, definitivamente, é preciso que o governo federal leve esse setor mais a sério, apoiando os estados no investimento em inteligência e planejamento, além de saúde e educação, controle de natalidade e geração de emprego, pois só polícia não resolve. Caso contrário, o crime continuará avançando.

Marcos Espínola é advogado criminalista


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