Por felipe.martins

Rio - O Brexit, logrado por percentuais mínimos, levou a um abalo imprevisível a estabilidade política na Inglaterra. Atinge a própria noção da sua identidade nacional, no contexto da pós-modernidade. A saída exprimiria uma reivindicação obsoleta, já que boa parte dos votos no “sim” veio da população com mais de 60 anos, enquanto, ao contrário, maciçamente, a mocidade manifestou-se pela permanência na União Europeia. Já vai a mais de 3 milhões a subscrição por novo plebiscito, que corrigiria o que se vê como catastrófico para o país. Respira-se, ainda, pela remota entrada em vigor da presente decisão.

As consequências alarmantes aí estão, com a permanência da Escócia na União Europeia, em clara ruptura com o plebiscito britânico, abrindo, inclusive, caminho para a sua possível independência. Está em causa toda a nova mobilidade europeia, assegurada pelo Espaço Schengen, e a uniformidade tributária, garantindo a sua economia. Por outro lado, o continente absorveu o impacto do Brexit com a própria perda de voz da ultradireita de Marine Le Pen e seus congêneres, tal como reforçam, em toda sua prospectiva, a liderança de Merkel.

Mas é de logo que, ao mesmo tempo, desembainha-se a interrogação quanto ao fator profundo de instabilidade da União Europeia, representado pela falta de regulação, ainda, da imigração africana e do Oriente Médio. Ainda que se escape da ameaça de um governo Trump nos Estados Unidos, só cresce, agora, o perigo dessa diáspora, com o claro fechamento das fronteiras britânicas, após o Brexit. E, por força, só começamos a deparar a mirada de Putin no que possa ser o desbarato do projeto que desmontou, de vez, a Guerra Fria.

Candido Mendes é Membro do Cons. da ONU para a Aliança das Civilizações e da ABL

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