Por thiago.antunes
Rio - Mesmo reconhecendo sua alegria intensa passageira quando se deslocou de Petrópolis, onde foi ordenado em 1945, até Três Rios, com o objetivo de dar bênção às tropas do general Olimpio Mourão Filho, vindo de Juiz de Fora, diga-se no que quiser, mas não se pode esquecer que, dois anos depois do golpe de 1964, esse padre se destacou por ser contra as torturas praticadas pela ditadura e por ser defensor das Diretas Já.
Esse padre, que morreu aos 95 anos, chama-se Dom Paulo Evaristo Arns, ordenado bispo em 1970, quando assumiu o arcebispado em São Paulo. Antes esteve em Petrópolis, Barra do Piraí e Nova Iguaçu. O jornalista Igor Natsusch disse que Dom Evaristo esteve sempre sob a vigilância desde quando assumiu posição decisiva na contestação e denúncia dos crimes da ditadura.
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Ativista político, defensor das liberdades e dos pobres, D. Evaristo foi cocelebrante da missa na Catedral da Sé em memória do jornalista Vladimir Herzog. Criou a Comissão Justiça e Paz e coordenou o grande projeto “Brasil: Tortura Nunca Mais”.
Hoje, merecidamente, D. Evaristo é considerado herói da resistência aos militares de 1964. Sua imagem ficará gravada na história como defensor dos direitos humanos.
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Isso não impede que se mostre a euforia da igreja pela queda de Jango, com posições radicais e atos de apoio diante do Estado de Exceção, que, no entender de religiosos conservadores, parecia promissor, mas que o com o tempo se revelou intolerável. Esse sentimento conservador da igreja predominou, também no norte do Estado do Rio.
Em Campos, por exemplo, a igreja tradicional montou assessoria, chefiada pelo diretor de redação da TV Norte Fluminense (complexo do deputado federal Alair Ferreira, da Arena, hoje de propriedade de Edir Macedo).
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Em Niterói, seu condutor era o padre Menceslau, ligado ao informante do Cenimar e do Dops, jornalista Joaquim Vieira Ferreira, o Joaquim Metralha, responsável pelo Comando de Caça aos Comunistas. A partir daí, os militares perderam o constrangimento e se voltaram contra a igreja.
O problema se agravou quando D. Aloisio Lorscheider ficou preso no Dops quatro horas, tempo necessário para que a igreja começasse a atacar o golpe de 64. A esperança perdeu o seu maior aliado, o bispo dos pobres.

Continentino Porto é jornalista