Por thiago.antunes

Rio - Em capítulo anterior da trágica comédia brasileira do século 21, o presidente do Senado Federal, descontrolado, alma e cabelos arrepiados, sacou de palavras ásperas como armas definitivas: “Vou usar meu poder de polícia para exigir respeito, está suspensa a sessão!”

O Plenário fervia, salão de caubóis tupiniquins trocando termos impróprios como se fossem tiros e flechadas. Nos debates sobre impeachment, uma senadora atacava : “Qual a moral deste Senado para julgar a presidenta inocenta? Quero saber, pois a metade aqui não tem”.

Senadores trocavam galanteios: “Esse senador é um desqualificado! Vossa Excelência é pior que o Beira-Mar, tem mais de 30 processos no STF, Cracolândia em seu gabinete, tem que fazer antidoping! Eu não sou assaltante de aposentados! Vossa Excelência é assaltante de trabalhador escravo! Mentiroso! Canalhas! Golpistas! Não podemos ser cretinos parlamentares!”

Entre a tragédia e a comédia, em recente capítulo, mais um espetáculo nunca antes representado na história deste país : como se fosse uma peça colegial sem enredo e sem direção, durante oito horas a sessão da Câmara Alta foi sequestrada por grupo de senadoras em protesto contra reformas do Estado, em votação.

O novo presidente da Casa, entre chocado e impotente, suspendeu a sessão, cortou o som dos microfones, desligou o sistema de refrigeração, apagou as luzes... e as senadoras pediram quentinhas e almoçaram tranquilamente, à luz de velas, sobre a solene Mesa Diretora do Senado, o Plenário à semelhança de uma boate mal-assombrada.

Em todo o mundo civilizado, o Senado atua como assembleia de cidadãos notáveis com conhecimentos e experiências que orientam decisões justas, equilibradas e racionais, com responsabilidades fundamentais para a dinâmica social e política do Estado.

No Brasil da corrupção, do desemprego e da violência, muitos senadores respondem a inquéritos e a ações penais que se eternizam sem julgamentos, enquanto protagonizam frequentes cenas de trágicas comédias, espetáculos deprimentes, ‘Zorra Total’.

Temos um Senado como casa de sabedoria e de justiça, a serviço do bem comum, exemplo para a Educação cidadã? Que tal emenda constitucional de iniciativa popular reduzindo a representação de três para apenas um senador por estado da Federação? Faríamos melhores escolhas, não? Panta rei.

Ruy Chaves é especialista em Educação

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