A missão de tratar da pele, maior e mais aparente órgão do corpo humano, e seus anexos (cabelos e unhas) exige — como em todas especialidades médicas e profissões — aprimoramento constante. Considerar pesquisas e estudos científicos é requisito indispensável para a garantia dos próprios pacientes. São os aprofundamentos teóricos, ajustes práticos e validações no campo científico — feitos por médicos de alto comprometimento com a prática ética — que evitarão a frustração de pacientes adquirirem tratamentos de experimentações, no lugar dos tratamentos eficazes.
A despeito da crise, o mercado da estética — onde se incluem os tratamentos dermatológicos em geral, das doenças do cabelo, do couro cabeludo e das unhas — vem crescendo a passos largos. Os brasileiros estão cada vez mais preocupados em cuidar da aparência e, graças a isso, bilhões de reais vêm sendo movimentados no setor. No entanto, na mesma proporção em que as vaidades feminina e masculina têm sobressaído, a atenção a cada novidade ou promessa tecnológica também deve aumentar. Há respaldo científico? Essa é a pergunta que sempre deve ser feita. Infelizmente, há muitos procedimentos e maquinários na moda, sem estudos que os resguardem.
O conhecimento científico caminha avesso ao senso comum. Para um conhecimento do senso comum passar a ser um conhecimento científico, é preciso problematizá-lo, criar obstáculos, criticá-lo e nunca aceitá-lo como algo pronto, definitivo. Nesse sentido, também seguimos questionando, experimentando e comprovando tratamentos e intervenções, estéticos ou não, antes de propô-los ao mercado: a intervenção dermatológica sempre exigirá consistente grau de certeza, o que deve afastar todo procedimento curioso ou temerário. Nesse fluxo, nos próximos dois dias, mil dermatologistas e os principais experts das doenças dos cabelos e das unhas estarão reunidos no 2º Simpósio Internacional de Cabelos e Unhas da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Acertar sempre será o nosso maior desafio. Esse é o nosso comprometimento com tudo o que vem antes da beleza, da estética e do bem-estar. Parafraseando Millôr, “temos muitos lápis para colorir, mas não temos nenhuma borracha para apagar”.
Bruna Duque Estrada é médica dermatologista e coordenadora do Departamento de Cabelos e Unhas da Sociedade Brasileira de Dermatologia