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Por Luís Pimentel Jornalista e escritor

Seja tocando a campainha ou chutando a porta, invasão ao lar dos outros sempre pega mal. Para os donos da casa e para a tropa invasora que poderia ter usado de outros meios, que poderia ter feito esforços anteriores para evitar que a situação chegasse a esse ponto. Fica sempre um cheiro nauseabundo de espetáculo sujo e midiático no ar.

Cirúrgicas ou circenses, não existem intervenções do bem. Todas futucam vísceras e arrebentam fendas, mesmo que a intenção seja curativa. Fica a pergunta nos corredores do CTI: extirpou o tumor ou facilitou a expansão do temor em metástase?

Procurei em artigos e opiniões de especialistas e de leigos, consultei meus búzios e umbigo em busca de luzes que ajudassem a alicerçar o meu pensamento ainda confuso. Entre os bons comentários, fica este, do jornalista Aziz Filho, pescado em rede social: "Digamos que as Forças Armadas estivessem usando seu sistema de comunicação para identificar e eliminar quem traz armas para o narcotráfico. Que o Exército tivesse cumprido a missão de patrulhar as fronteiras. Que a Marinha suasse o uniforme para impedir a chegada de contrabando pela Baía de Guanabara. Que a Aeronáutica fizesse de tudo para não deixar entrar armas ilegais no espaço aéreo. Que as três Forças impedissem o desvio de armas de quartéis e paióis. Que a Polícia Federal tivesse metido a mão na massa, como fez na Lava Jato, para desbaratar o sistema de fornecimento de armas ao narcotráfico carioca. Que a Polícia Rodoviária Federal enfrentasse os ladrões de carga nas estradas federais. Se tudo isso tivesse sido feito pela União e, mesmo assim, a situação continuasse fora de controle, talvez não houvesse tantos cariocas desconfiados de que essa intervenção não passa de pirotecnia, oportunismo e perigosa improvisação. Tomara que não seja, para o bem do Rio de Janeiro e do Brasil."

O também jornalista Elio Gaspari dá o tiro de misericórdia, em sua coluna para diversos jornais: "Colocar um general como interventor no aparelho de Segurança, sem mexer no dragão das roubalheiras administrativas, tem tudo para ser um exercício de enxugamento de gelo".

Em patética mea-culpa, o governador (?) do Rio escreveu: "Não é hora de sentimentos menores. É hora de ação". Ação?! O que o senhor entende de assunto, Pezão?

O nosso Rio (sou baiano, mas pelo tempo de casa já me sinto da família) não merece o destino que políticos que jamais mereceram os votos recebidos fizeram com a cidade e com o estado. Mas agora o malfeito está feito. Não adianta chorar sobre o sangue, o suor e a vergonha derramados. Vamos ao menos tentar, cada um à sua maneira e capacidade, virar esse jogo.

Estamos perdendo de goleada. Mas podemos tentar ainda intervir (!) no resultado.

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