Júlio Furtado, colunista do DIA - Divulgação
Júlio Furtado, colunista do DIADivulgação
Por

Rio - A Educação é filha da esperança, já afirmava Paulo Freire. O que ele quis dizer é que o ato educativo depende da crença positiva no amanhã, já que educar é uma mistura de tornar o outro mais humano e potencializar suas habilidades e competências para lidar saudavelmente com o mundo. A esperança 'abastece' a Educação em vários sentidos. Ao dizermos que uma determinada criança "não tem mais jeito", estamos inviabilizando a possibilidade de educá-la, já que ali não há mais esperança de que ela possa tornar-se melhor. É, também, a energia de ação do professor, que, uma vez descrente de que a realidade possa vir a ser melhor, não consegue plantar sementes de otimismo e esperança em seus educandos.

Há uma equação difícil de ser resolvida no contexto em que vivemos hoje: onde o professor pode se 'alimentar' para semear esperança entre seus alunos, já que a realidade parece só nos oferecer pratos amargos? Como convencer nossas crianças e jovens de que tudo vai melhorar se essa convicção não está dentro de nós?

Penso que, em momentos assim, precisamos ir fundo em nossas reflexões, saindo da superficialidade dos fatos e mergulhando no sentido mais profundo que essa realidade pode ter. Isso nos ajuda a vivenciar um choque de consciência que nos tira da inércia e nos ajuda a tomar uma posição honesta (que pode, inclusive, ser a de que não temos mais condições de educar). A questão é que a Educação ganha um papel ainda mais crucial em tempos de desencanto.

O Carnaval pode nos inspirar em algumas reflexões, e é dele que me sirvo nesse momento. Impossível falar da folia e não lembrar da minha grande mestra Thereza Penna Firme, que entre suas pérolas metafóricas faz uma relação entre os nomes dos blocos e a realidade da Educação. Gosto, em especial, de duas analogias que ela faz. Uma quando diz que o bloco da universidade brasileira é o "Concentra, mas não sai" e a outra, que cabe bem em nossa reflexão, é o que seria o bloco de alguns professores: "Se não aguenta, por que veio?!". Pode ser chocante (além de engraçado, admitamos), mas educar é tarefa para quem se compromete a ter os pés no chão e a cabeça nas estrelas sem exagerar em nenhuma das extremidades. Pensando assim, sinto-me forte e esperançoso. Pronto para semear possibilidades de um amanhã melhor.

Júlio Furtado Professor e escritor

Você pode gostar
Comentários