Fernando Scarpa: jubileu de 1968 - Arte O DIA
Fernando Scarpa: jubileu de 1968Arte O DIA
Por Fernando Scarpa Psicanalista

Rio - Não vai ter jeito, 2018 segue a sina dos anos terminados em oito. Assim como 1968, o ano que não terminou e abalou o mundo, este não escapa, já começou desmoronando e não vai se sustentar, precisa se reinventar. Há 50 anos, nesse mesmo mês de fevereiro, em São Paulo, artistas protestavam em frente ao Teatro Municipal: lutavam contra a ditadura, evocando a liberdade de expressão. Passado meio século, a imprensa ainda se vê ameaçada por ecos do desejo de algumas autoridades, para calar vozes e letras. Não é o passado que retorna, é que nada passou, embora estejamos em 2018.

As alegorias do poder e da repressão latejam na alma dos que odeiam a verdade, amam calar bocas, surgem ao menor sinal de poder, querem se ocultar. A caixa-preta do BNDES é um exemplo nítido de que algo de errado foi ocultado. Quanto mais nos escondemos, mais nos revelamos, não tem jeito.

Eles continuam os mesmos, nós, não. Perdemos o entusiasmo, somos os vencidos nas lutas inglórias, os desesperançados de 2018. A motivação para protestar se esvaiu, creio que não haverá Passeata dos Cem Mil.

Os dias estão terríveis, a rua é perigosa, não tem mais minissaia e calça Lee protestando, não tem os tanques do Exército, que imaginávamos enfrentar com rosas, na ideologia romântica daqueles dias, sem acreditar que morreríamos.

São outros tempos: hoje é assalto e bala perdida, e o Estado sitiado: todos são sócios nesse grande negócio de governar e ser político no Brasil. Não é possível negociar e votar em nada com o enorme contingente de partidos. Sai caro para nós, inviabiliza o país, trava tudo. Eles ficam ricos, nós, pobres.

Dói saber que não existe figura pública capaz de fazer funcionar a nação, rumo aos nosso sonhos e necessidades mais simples. Não há sossego para se viver nessa terra, está complicado levar pernada e ser enganado. A turma perdeu a linha, está à vontade. Eles fazem o que querem. Fica a impressão de que o tempo não passa, e o país foi transformado num grande puteiro Cazuza tem razão, custoso admitir. O ano promete, nesse jubileu de 68, transformações e desmoronamentos significativos, e que ele fique na história como o ano em que com tudo se acabou. É esperar para ver, quanto maior a altura, maior é o tombo.

Fernando Scarpa é psicanalista

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