Ângelo Freitas
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Por Ângelo Freitas Empresário

Rio - Existe uma subcategoria no mundo do empreendedorismo (hoje já reconhecida por organizações como o Sebrae) chamada de 'afroempreendedorismo'. Trata-se de qualquer empreendimento focado exclusivamente no público negro. O surgimento desse termo no vocabulário da economia brasileira é novo, assim como o reconhecimento de que esse público, é sim, uma grande e potencial fatia de mercado.

Hoje, no país, nós negros somos mais de 50% da população, de acordo com o IBGE. Porém, há mais de 20 anos, quando montei meu primeiro negócio focado nesse público, nós nem éramos contados. E muito menos o nosso dinheiro. E menos ainda a nossa opinião. No setor de beleza, no qual construí boa parte dos meus empreendimentos, o caminho era ainda mais complicado. Muito se falava em alisamento japonês, em escova marroquina O cabelo liso, como sempre, estava em alta. Mas pouco (ou quase nada) se falava em valorizar os cachos, em black-power. Sobre empoderamento, então... Nem sonhávamos com esse neologismo.

Ao desenvolver o projeto da rede de salões de beleza Raízes Salão Afro, junto com a minha esposa e sócia, Bárbara Moura, que valorizava o crespo e o cacheado das clientes, percebi o quanto esse mercado era carente. Não somente de bons profissionais, mas também de produtos e serviços.

A ausência de produtos para esse tipo de cabelo era tão grande, que pouco tempo depois, decidi criar minha própria marca, a Onduladus, a primeira do país totalmente focada no público negro. Confesso que preconceito na minha vida empresarial não sofri, mas na época que criei a marca de produtos e vivia viajando para os Estados Unidos para acompanhar o desenvolvimento de algumas formulações, muitos não acreditavam no potencial do negócio e por vezes fui desencorajado por 'especialistas'.

Hoje, fabricamos toneladas nos maiores parques fabris do Brasil. Nota-se que a realidade do afroempreendedor mudou. E muito. Segundo uma pesquisa do Data Popular, em 2007, o rendimento anual da classe média negra estava em torno de R$ 337 bilhões, passando a R$ 554 bilhões em 2010. Os últimos números apontam para uma movimentação de R$ 800 bilhões ao ano. E estima-se que em 2017 a população afro-brasileira movimentou até R$1 trilhão no país.

E não para por aí. Segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento, o Brasil possui, hoje, 11 milhões de empreendedores afrodescendentes. Sim, somos muitos! E isso me enche de orgulho. Muito mais do que um 'nicho', o povo negro é a maioria no Brasil e, economicamente falando, ainda temos muito potencial de crescimento.

Ângelo Freitas é empresário

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