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Por Luís Pimentel Jornalista e escritor

'Mangas e bananas para o meu amor', de Camila Costa. Ao som de um reco-reco de mola e de um darbuka (Não se assustem, eu também não sabia o que era. Fui pesquisar para descobrir que se trata de um "membranofone tradicional na música árabe, tendo parentesco com o djembe do oeste africano") e com versos cheirando a embolada ("Coco, cocar coqueiro novo/ Não se esqueça de sair do ovo/ Para ver o galo cocorocar"), entramos no universo poético e musical de 'Mangas e bananas para o meu amor', o lindo e novíssimo CD autoral (há apenas duas canções com parceiros, uma com Edu Krieger e outra com Rubem Jacobina) da cantora e compositora Camila Costa (independente). Este é o segundo álbum de Camila (artista jovem, mas com boa trajetória na música, seja em trabalhos solo ou nos primeiros anos de estrada do grupo Sururu na roda), mas que demonstra profissionalismo e acabamento marcantes. Com produção artística da cantora Ceumar e direção musical de Dany Roland, gravado em Amsterdã e no Rio com um timaço de músicos, 'Mangas e bananas para o meu amor' faz um passeio delicado por um hortifrúti gostoso de versos e de melodias. Lindo trabalho. Para saber mais da artista e da obra: www.camilacosta.bandcamp.com. Corram atrás.

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'Canto do Leo,' de Leo Russo. Com alma, reverência e embocadura de sambista, o cantor e compositor carioca (carioquíssimo) Leo Russo abre alas para o samba-canção no bonito CD 'Canto do Leo'. Dos mais tradicionais como o emblemático 'Somos iguais' (Evaldo Gouveia/Jair Amorim) a experiências contemporâneas, a exemplo do lindíssimo 'Dois bombons e uma rosa', de Aldir Blanc (aqui o poeta da Muda fazendo música e letra), é possível um ótimo passeio pelo gênero. Além dos autores citados, outros representantes de peso, como Vadinho e Adelino Moreira ('Meu vício é você', quem não lembra?), marcam presença no álbum, que revela ainda a obra autoral de Leo, em melodias gostosas e versos inspirados, como esse: "Te vejo jogando altinho na beira d'água/ E o sol parece sorrir pra nós dois/ Molho os meus pés, olho pra ti/ Olha pra mim, Olhos de mar'. Além de contar nas gravações com um timaço de músicos, 'Canto do Leo' tem direção musical, arranjos e piano de Cristóvão Bastos. Empreendedor, batalhador das causas mais nobres da música brasileira e artista muito querido pelos seus pares, Leo Russo toca a jovem carreira com muito esmero e devoção. Está na luta, no corpo a corpo com um mercado fonográfico dos mais confusos. Mas o 'Canto' e a obra estão lançados. Como diz um verso da linda canção de Fausto Nilo e Evaldo Gouveia, presente no disco, "Agora é a vida".

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'Bebedouro', de Zé Renato. Com um timaço de parceiros à altura do seu talento, além de participações especiais de vozes que enriquecem qualquer trabalho musical, o cantor e compositor Zé Renato apresenta o seu novo álbum autoral (talvez o mais inspirado, rico e bem acabado de sua trajetória). 'Bebedouro' é obra-prima, mostrando o artista no auge de sua criação, onde as faixas, em parceria com Nei Lopes, Joyce Moreno, Moacyr Luz, Paulo César Pinheiro, João Cavalcanti, Capinam e Moraes Moreira, se entrelaçam em conjunto harmonioso e extremamente delicado. Participações especiais de Pedro Miranda, Dori Caymmi, Dadi, Celso Fonseca e Vinicius Cantuária, além dos parceiros Moraes e Cavalcanti, embalados pelo piano de Cristovão Bastos, o cavaquinho de Luciana Rabello ou as percussões de Marcelo Costa e Thiago da Serrinha enriquecem ainda mais um disco que nasce rico desde a escolha do repertório. Corram atrás.

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'Feliz da Vila', de Juju Ferreirah. Vila Isabel na veia. Esse é o espírito do CD de Juju Ferreirah, 'FelizdaVila', composto de sambas que enaltecem a escola, o bairro e seus heróis ou personagens. Grandes nomes da música brasileira, cujas histórias estão ligadas ao bairro célebre ou à agremiação Noel Rosa, Martinho da Vila (pai da cantora) e Luiz Carlos da Vila emprestam seus talentos ao repertório caprichado. O disco de Juju tem arranjos corretíssimos dos bambas Wanderson Martins, Ivan Machado e Claudio Jorge. E participações especiais que passam por Martinho (justamente no momento mais bonito e poético do álbum, com a sua 'A vila canta o Brasil, celeiro do mundo', parceria com Arlindo Cruz, André Diniz, Lenel e Tunico da Vila), Monarco e Mano Heitor, entre outros. A festa é toda para a Vila Isabel, mas o mundo do samba aplaude.

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