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Por Breno Freitas Palestrante e assessor parlamentar

A decisão do Supremo Tribunal Federal de confirmar a realização de novas eleições em Teresópolis e outros municípios do estado não me surpreendeu. O que me entristece é ver a lista dos 'prefeitáveis' da maioria dos municípios, cheia de velhos nomes, que em algum momento de suas histórias contribuíram para o caos.

E por que isso acontece? Temos um sistema político de 'caciquismo' muito complexo que evita ou melhor, rejeita novidades. Prefere brincar de museu, onde velhos quadros são substituídos, mas preservam a moldura. Algumas vezes nesse carrossel da história um ou outro nome consegue sair dessas exposições. Mas é raro. Nossos políticos encontram sempre uma forma de dizer a mesma coisa em termos diferentes, nos dando a ilusão de que nos trazem novidades.

Vejo os nomes, os rostos, nada me anima no atual processo eleitoral. Desde os anos 80 Cazuza já nos brindava com algumas reflexões sobre mudanças. Existem momentos que as "ideias não correspondem aos fatos" e vivemos um tempo de muito pessimismo em relação a representatividade. Ninguém se vê representado por ninguém, uma fragmentação de autoridade, respeito pela diversidade e onde há um certo fastio cansaço de poder.

Muitos que colocam seu nome na disputa não possuem condições de dar à esfera pública sua total dedicação porque simplesmente possuem outras atividades econômicas que dependem de suas presenças. Temos que entender que o DNA do setor público difere do privado e ponto. Prefiro acreditar que alguém da esfera pública, qualificado no setor, com apoio empresarial e da sociedade civil, possua mais condições de dedicação exclusiva, conhecimento e energia para enfrentar a velha máquina. Precisamos formar mais agentes públicos, pessoas que se dediquem ao setor público como missão integral, não como tempo compartilhado.

Às vezes quando a imprensa ou conversas ocultas vêm à tona, nos surpreendemos com aquele vereador, afinal, quem era aquele personagem? Por que ao celular ou em conversas privadas parece uma outra pessoa? Políticos tradicionais seguem fazendo um discurso para seus pares outro para seus eleitores.

A crise de liderança é clara. Poucos acreditam que o sistema político-eleitoral nos trará novidades. Mas no panorama internacional ou mesmo analisando as últimas eleições ou pesquisas vemos que a tendência no momento é dar uma resposta à classe da velha política elegendo pessoas novas mas capacitadas e familiarizadas com os problemas da máquina pública.

Quero fugir desse museu de grandes novidades, de sites bonitos sem conteúdos, de perfis fakes pagos para divulgar velhas figuras sem graça. A democracia possui de tempos em tempos antídotos contra seu próprio desgaste, e esse remédio muitas vezes se expressa através dos processos eleitorais. Antes era voto de protesto, um ou outro. Hoje a expectativa é de uma Lava Jato nas urnas, completando o trabalho iniciado pela Ficha Limpa e pelo combate ao abuso de poder econômico. Sem esse terremoto, não teremos um sopro de esperança. É preciso renovar profundamente, não somente nomes mas também práticas. Candidatos que tentam imitar os antigos porque "política é assim" serão colocados nas listas das piscinas cheias de ratos. E aí, meu amigo, o tempo não para. Tenho muito respeito por alguns nomes insistentes até honrados , mas é hora de dar lugar a outras gerações e rostos, novas práticas, novos olhares.

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