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Por Ricardo Cravo Albin

A cultura é o campo mais vasto em que o conhecimento humano se envolve, podendo provocar toda uma serie de debates... e embates. O sociólogo italiano Domenico De Masi - que vem sempre por aqui - não apenas é estudioso do Brasil, mas um apaixonado pelo povo carioca, suas múltiplas e provocadores vivências, sua apetência pelo prazer - é aí que entra a transversalidade da cultura.

De Masi profetizou a necessidade de a cultura e o ato de viver proverem a felicidade, tal como séculos antes Dante antecipava.

De fato, o sociólogo De Masi é considerado um dos mais ardorosos aliados dos folguedos de rua do Rio, em especial o Carnaval, miscigenado e monumental. Nem vou me alongar aqui em registrar as citações dele sobre a solaridade brasileira, quando confrontada com a tristeza lunar da Europa. Suas considerações a respeito da necessidade do sensual como braço da possível felicidade coletiva, então, são de arrebatar corações. Até porque o italiano recria teses esboçadas pelo nosso Gilberto Freire, propostas oito décadas antes. Ou seja, cultura não será apenas um amontoado de dissertações bolorentas, de informações caducas, quase sempre pretensiosas, quando não autocráticas. Para refletir tão somente brilharecos técnicos e frios, quase nunca provados na prática.

Servem para pasto de laboratórios burocráticos e sensaborões, mas nunca à pratica, nunca ao sangue pulsante, nunca às artimanhas seminais do ato de viver, ser livre, usar o corpo, provocar-se o prazer. Muito menos ao que ele considera a essência no inter-relacionamento humano, a busca da felicidade.

Pois bem, esta já alongada introdução é por conta da entrevista do ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, meu velho conhecido, concedida há dois dias ao programa Deles e Delas, de Leleco Barbosa, no canal CNT. Ricardo Amaral e eu fomos os entrevistadores do jovem ministro. Que nos antecipou o investimento de ordem de R$ 500 milhões destinados ao audiovisual. Sérgio Sá Leitão insistiu muito na cadeia produtiva, que deve culminar no crescimento articulado da economia da cultura. E assegurou que a quantia alocada descerrará as cortinas pesadas da timidez e do acanhamento que ainda infelicitam o processo da cultura.

Enquanto Ricardo Amaral se referia aos eventos para estimular o calendário turístico do Rio, eu me preocupei em debater/propor ao ministro medidas para a preservação da memória, em um país quase sem respeito à memória. Como não deixar tombar o casario histórico? Como fazer circular os livros e estimular sua propagação? Como preservar o tesouro do riquíssimo folclore, prova verdadeira da alma do país?

Se tivéssemos soluções para tudo isso, seriamos mais felizes. Ao menos um caminho para a felicidade possível (não exatamente a apregoada por Masi) poderia ser aberto.

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