Cid Benjamin, colunista do DIA - Divulgação
Cid Benjamin, colunista do DIADivulgação
Por Cid Benjamin Jornalista

Rio - Houve tempos em que uma desavença de rua envolvendo militar ou policial poderia fazer aparecer o contingente armado de uma corporação do Estado para apoiar um dos contendores. Isso tinha saído de moda. Mas parece estar voltando.

Domingo à noite, no bar Bip Bip, em Copacabana, um cidadão, depois identificado como Haroldo Ramos de Souza, protestou contra uma homenagem de Alfredinho, o dono do estabelecimento, a Marielle Franco, no intervalo da roda de samba. Como seria de se esperar, foi vaiado pelos presentes.

Tomando-se de dores, criou caso, bateu boca e ameaçou Deus e todo mundo. Lá pelas tantas, saiu e o samba pôde prosseguir.

Mas, o cidadão voltou exibindo uma arma de fogo e informando ser agente da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Dizendo estar "com o caralho no corpo", ameaçou os presentes. Afirmou ter sido empurrado por alguém que não poderia identificar e que, por isso, "conduziria" Alfredinho a uma delegacia. A partir daí, no bate-boca, só se referiu ao doce Alfredinho, que tem 74 anos, como "o meu conduzido".

Diante da confusão, frequentadores do bar chamaram a PM. Apesar do comportamento ponderado da tenente, Alfredinho acabou levado para a delegacia. Afinal, ele era "o conduzido" de um agente federal... Mesmo que numa noite de folga e tendo tomado umas e outras.

O caso foi parar na 14ª DP, no Leblon. Lá, foi "lavrada a ocorrência" e Alfredinho, arrolado como testemunha. Não adiantou insistir que não tinha visto qualquer empurrão. A essa altura, seu advogado chegou, mas o delegado se recusou a recebê-lo.

A comédia pastelão não terminou aí. Chegou uma viatura da PRF com quatro agentes armados...de fuzil. Houvesse comando nas instituições policiais, não só o encrenqueiro seria punido por ameaçar pessoas com sua arma funcional depois de beber, como também seus colegas, que levaram fuzis da corporação para intervir num caso privado. Mas são tempos bicudos.

Reza a lenda que, quando da edição do AI-5, o vice-presidente Pedro Aleixo disse temer pelo comportamento dos "guardas da esquina" nas ditaduras. Como se vê, um "guarda da esquina" apareceu no Bip Bip no domingo.

Abriram o covil das bestas. A direita soltou seus pitbulls e eles não voltaram para o canil. Os dias do "sabe com quem está falando?" estão de volta.

Cid Benjamin é jornalista

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