Roberto Muylaert, colunista do DIA - Divulgação
Roberto Muylaert, colunista do DIADivulgação
Por Roberto Muylaert Jornalista e escritor

Rio - Sou suficientemente entrado em anos para lembrar do Brasil do final da década de 1950, em que todos acreditavam que era possível viver em harmonia, indo pra frente. Como orgulho maior, a conquista da Copa de 1958, e a construção de Brasília.

Havia razoável divisão entre as pessoas que queriam o poder e aquelas que desejavam enriquecer.

Getúlio Vargas foi um presidente daqueles que queriam o poder a qualquer custo. Ele não enriqueceu no governo, mas distribuiu cartórios para muita gente a quem desejava agradar, mas não como contrapartida de alguma coisa. O "mar-de-lama" sobre o qual bradava Carlos Lacerda, na campanha que levaria Getúlio ao suicídio, era mais uma expressão do que uma "delação", como temos hoje em quantidade.

Juscelino Kubitschek saiu do governo com fama de ter enriquecido muita gente com Brasília, construída em três anos, mas ninguém levantou suspeita sobre suas posses ao deixar o cargo, mesmo depois de ter suas contas esquadrinhadas pelo golpe de 64.

Juscelino também gostava do poder, mas para realizar coisas, como fez na prefeitura de Belo Horizonte e no governo do estado, antes da nova capital.

Fora da política, o jornalista Assis Chateaubriand notabilizou-se ao comprar uma coleção milionária de arte, sem ganhar dinheiro com isso. Ele andou espremendo contra a parede ricos industriais de São Paulo para fazê-los doar obras ao MASP de artistas que esses empresários não tinham a menor ideia de quem fossem.

Quem buscava poder queria realizar coisas notáveis para o país e para seu ego inflado.

Depois, surgiu a praga dos políticos que queriam poder para ganhar dinheiro. Adhemar de Barros e Paulo Maluf foram pioneiros nesse quesito. Daí para a frente, acabaram os sonhos de realizar grandes feitos, até chegar a um governador como Sérgio Cabral, que representa o máximo a que pode atingir a cobiça de uma pessoa, sacrificando o próprio estado que deveria defender, com as consequências que conhecemos.

A Copa do Mundo e a Olimpíada no Brasil ensejaram a demolição do Maracanã, reformado poucos anos antes, apenas para que rolassem propinas tão grandes como era o estádio antes de ser derrubado.

Foi feito um Maracanã novo no terreno do antigo, dentro do mote: "faça dois e fique com um". Mas esse exemplo é muito pouco expressivo perto do que estaria por vir.

Roberto Muylaert é jornalista e escritor

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