O que mais preocupa é como ficará o Rio após a intervenção, afinal, passado um mês de operações o que se vê, segundo os registros de ocorrências das delegacias, é o crescimento de crimes como homicídios e roubos de carros e cargas. Continuamos à espera de um futuro que não desponta no horizonte. Com a saída das tropas tudo voltará ao normal. Aliás, será pior, com o narcotráfico fortalecido e avançando não só nas comunidades, mas no Estado inteiro.
A guerra não para. A média de policiais assassinados continua a mesma dos últimos anos. Antes mesmo do fim desse primeiro trimestre já atingimos quase 25% dos 134 policiais mortos em 2017.
Intervenção e o apoio dos militares são essenciais, porém o comando das ações deve ser dividido com as polícias militar, civil e federal, esta última, comprovadamente com experiência investigativa. O olhar das forças armadas sobre a violência urbana não é igual ao das polícias.
O que se tem feito em algumas localidades, como na Vila Kennedy, por exemplo, não tem qualquer eficácia, com os militares tirando as barricadas e os bandidos as recolocando no dia seguinte. Um movimento inócuo e que desmoraliza o poder constituído.
Intervenção se faz com democracia e justiça. Isto significa direcionar o foco numa estratégia que contemple ações conjuntas dos militares, policiais e todas as outras áreas do poder público. Criar núcleos de identificação que mapeie cada localidade para depois agir. E quando for para entrar nas comunidades que entrem com todos os serviços que resgatem a dignidade de todos ali presentes em condições sub-humanas.
Se for para sufocar os bandidos que isso se inicie nas fronteiras, minando os corredores de circulação das mercadorias. Quem quer a paz tem que enfrentar a guerra estrategicamente.
É preciso que uma voz se levante e assuma tal postura, como ocorre na Lava-jato. Disposição para lidar com o que pode vir pela frente, como possíveis nomes poderosos que possam estar ligados às indústrias das drogas e armas.
Segurança pública não se resolve com poder bélico, pois a violência é fruto da desigualdade social, da precária educação e saúde, da falta de oportunidade de emprego, da ausência de políticas públicas sérias para o bem social e coletivo.
São necessárias ações conjuntas das instituições e que ofertem todos os serviços essenciais para a cidadania. Aí sim, podemos vislumbrar um futuro melhor.
Marcos Espínola é advogado criminalista