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Por Eugênio Cunha Professor e jornalista

Fala-se atualmente acerca da exclusão trazida pelas tecnologias digitais de comunicação. De fato, por causa das desigualdades econômicas, os avanços tecnológicos sempre provocaram essa situação. Tem sido assim desde a impressão por tipos móveis de Johannes Gutenberg, quando apenas os letrados tinham acesso ao livro. O mesmo aconteceu com a TV, e agora ocorre com as mídias digitais.

Um estudo encomendado pela Internet.org mostra que o Brasil é um dos dez países com maior número de pessoas desconectadas. São 70,5 milhões de brasileiros excluídos da web, sem acesso à internet, seja por meio de banda larga fixa ou móvel.

Por outro lado, é preciso lembrar que milhares seriam excluídos da vida social (fato mais grave) se não fosse o suporte das mídias digitais. Quando eu participava de um evento educacional numa universidade pública, ouvi o relato de um professor que ficara cego por conta de um acidente que sofrera. Ele dizia que a sua maior dificuldade de readaptação ao mundo social, principalmente relacionada ao seu trabalho, não era tanto as questões ligadas à comunicação visual, como alguns poderiam pensar. Por meio de aplicativos, ele lia livros e mensagens nas redes sociais, identificando até gestos, cores e aspectos subjetivos ligados à percepção visual.

Segundo ele, o que mais lhe trazia empecilhos era a acessibilidade urbana. Mover-se, ter condições de ir e vir. Não apenas para aquele professor, mas para tantas outras pessoas, as tecnologias foram vitais para promover inclusão e melhores condições de acesso à informação, ao conhecimento e ao trabalho.

Pessoas com autismo ou com paralisia cerebral, por exemplo, estabelecem padrões de comunicação específicos, utilizando tablets ou smartphones. Não somente isso, mas elas também criam alternativas e novas condições para o processo de ensino e aprendizagem na escola. Por outro lado, essas novas condições representam desafios constantes para as instituições de ensino e para os educadores. Pensando melhor, os desafios são para todos. O desenvolvimento científico trouxe possiblidades para muitos superarem seus limites. No mundo contemporâneo, não são as tecnologias que excluem, mas a ausência de alguns atributos inerentes à nossa humanidade e ética, essenciais para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.

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