Por Ana Cecília Romeu Publicitária e escritora

Ao assistir com minha filha ao desenho animado do Peter Pan, uma fala me chamou a atenção: "Ele espalhará sua sombra tóxica pela Terra do Nunca." De imediato, fiz uma relação com o atual governo federal e com o nosso país.

No livro 'Peter Pan', escrito pelo escocês J. M. Barie, a Terra do Nunca é um lugar de sonhos e possibilidades, uma ilha fictícia habitada pelos personagens mágicos, onde seu protagonista recusou-se a crescer, permanecendo uma eterna criança. O paraíso da imortalidade, da aventura, da juventude e da felicidade.

Atualmente, nosso país pode ser considerado a Terra do Nunca, mas por motivos muito diferentes: um território perdido onde o fim das oportunidades se tornou flagrante.

O Brasil já foi a Terra do Talvez ou a Terra do Pode Dar Certo; mas depois de se praticar o "tanto faz" por muito tempo, o "deixa disso", o "não tenho nada com isso", quem sabe o "rouba mas faz", o "também quero minha parte", ou o "todos são corruptos mesmo" acabou-se lapidada sua própria ruína.

Hoje vivemos na Terra do Nunca ou do Jamais. Cessaram as oportunidades. Os direitos do cidadão e do trabalhador estão tão corroídos que é provável que se esgotem de vez. Processo que vem reinaugurando uma nova fase que oficializa a crueldade de silenciar para se manter, esquivar-se, sobreviver. Uma espécie de ditadura velada e paga com o bolso e suor do próprio contribuinte.

O atual governo federal "espalha sua sombra tóxica" ao aprovar medidas castradoras de direitos ao cidadão comum. Não parecemos estar à mercê, navio afundando em águas turvas, estamos mesmo. E nosso comandante dispõe de uma tripulação muito atenta apenas em seus próprios ganhos; assim, nós eleitores assistimos aos desastres causados pelos corsários do rei, numa passividade espantosa.

Vontade de voar, de ser uma eterna criança, a bem pequenina que nada sabe, apenas brinca, se diverte: este parece ser o sonho da maioria dos brasileiros, o mesmo sonho de Peter Pan. No entanto, nossa Terra do Nunca pede urgência e que sejamos tão crescidos como ela poderia ter sido.

Ana Cecília Romeu é publicitária e escritora

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