opina9abr - ARTE O DIA
opina9abrARTE O DIA
Por Dirceu Pereira Filho Gerente de Risco do Grupo JAL

No início da noite de 8 de fevereiro, domingo, um ônibus da Flores, a maior empresa de transporte coletivo da Baixada Fluminense, foi incendiado em retaliação à morte de um suposto traficante do bairro de Coelho Neto. Aquele foi o primeiro da veículo da frota a ser queimado em 2018.

Em menos de 12 meses, 21 ônibus, de três empresas do grupo, tiveram o mesmo fim. A Flores transporta mais de 5 milhões de passageiros por mês

A violência no Rio de Janeiro causa perdas para as empresas de transporte de passageiro e prejudica a população. O carro incendiado naquele domingo, por exemplo, tinha ar condicionado e rodava há menos de um ano.

A reposição de um ônibus queimado leva em média 90 dias. Cada veículo assegura a vaga de cinco trabalhadores, entre motorista e cobrador. Muitas empresas, por conta da grave crise do setor, acabam não repondo os veículos depredados e são obrigadas a demitir. As empresas maiores podem até dar um "jeitinho" para driblar a perda dos ônibus, mas não é de "jeitinho" que o Rio precisa.

Quando um ônibus é queimado, toda tecnologia embarcada se perde: GPS, bilhetagem e sistema de monitoramento. O prejuízo chega a R$ 400 mil contabilizando equipamentos. E não há seguro contra vandalismo.

Nos últimos 60 dias, 12 ônibus foram incendiados em todo o Estado do Rio, sendo sete somente na capital. Desde 2016, foram 145, dos quais 72 na capital. O prejuízo ultrapassa R$ 64 milhões, segundo a Fetranspor.

A depredação é apenas uma das faces mais visíveis dos desmandos da cidade. Há poucas semanas, diante de um confronto entre policiais e traficantes, na Avenida Brasil, o motorista de um de nossos veículos trafegou por alguns metros com todas as luzes do veículo apagadas e orientou os passageitros a se abaixarem enquanto passavam pela zona do confronto.

Até o dia de hoje, em uma comunidade específica da Baixada, os motoristas são obrigados a se submeter ao "pedágio do tráfico". O ônibus é parado, com passageiros dentro, para que os bandidos, armados com fuzil, roubem óleo diesel de dentro do tanque. Em algumas situações, motoristas e cobradores se comportam mais como super heróis do que como trabalhadores. Há cerca de dois anos, um motorista estacionou e pediu ajuda da vizinhança da rua por onde trafegava para abrigar os passageiros dentro de uma casa quando percebeu que, logo adiante, passaria por um tiroteio.

O estresse e o medo podem afetar passageiros e trabalhadores. Uma cobradora, que já tinha passado por dois assaltos, ficou abalada após presenciar o incêndio do ônibus em que trabalhava. "Foi cena de cinema", conta ela que, durante quatro meses, tomou remédio para reduzir a ansiedade pós-trauma. Cerca de vinte homens armados com fuzis cercaram o veículo e o incendiaram para vingar a morte de um bandido da região.

O Rio de Janeiro vive um drama. A insegurança assombra a população. E as empresas de transporte de passageiros, com frequência, estão sendo impedidas de garantir um dos mais sagrados direitos do cidadão: o de ir e vir.

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