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Por Marcelo Crivella Filho Consultor do Instituto Latino-Americano das Nações Unidas

No Brasil, 503 mulheres são vítimas de agressão física a cada hora. Entre as que possuem idade superior a 16 anos, 40% já sofreram algum tipo de assédio. Mais de 2,2 milhões delas já foram beijadas ou agarradas sem consentimento. Os homens falam durante 75% do tempo em discussões de trabalho. Mulheres são 2,1 vezes mais interrompidas por homens durante as conversas. Profissionais do sexo feminino ganham menos que os colegas do sexo oposto em todos os cargos, áreas de atuação e níveis de escolaridade.

Esses dados, alarmantes, recolhidos nos últimos cinco anos, mostram como a desigualdade de gênero, o machismo e o sexismo ainda são presentes no Brasil. E como é fundamental que a sociedade como um todo entre no debate em prol dos direitos das mulheres. Cidadãos, poder público e entidades precisam estar unidos nessa luta. A ONU lidera um dos grandes movimentos mundiais a esse respeito: a ONU Mulheres (2010) tem o objetivo de unir, fortalecer e ampliar os esforços mundiais em defesa dos direitos humanos das mulheres. 

Alguns instrumentos já estão em andamento, como a Agenda 2030. Com esse plano de ação baseado nos objetivos do Desenvolvimento Sustentável, as Nações Unidas pretendem ecoar ainda mais a voz em defesa do sexo feminino. De acordo com o relatório lançado em fevereiro pela entidade, sem o rápido progresso para a igualdade de gênero e ações reais para acabar com a discriminação contra mulheres e meninas, a comunidade global não será capaz de manter a promessa de "não deixar ninguém para trás" no caminho para pôr fim à pobreza, proteger o planeta e avançar na prosperidade.

Esse avanço é urgente. Afinal, as desigualdades de gênero - historicamente - pesam contra as mulheres. A trajetória delas, em vários setores, é marcada por desigualdades injustificáveis. No mercado de trabalho, por exemplo, por muitos anos o papel feminino era aceito apenas no aspecto da domesticidade. Até o acesso à educação lhes era negado. As escolas eram um espaço exclusivamente masculino e quando elas tinham acesso, eram em locais separados e - muitas vezes - com um currículo diferenciado.

Apesar de isso ter mudado na maior parte do mundo, ainda hoje há reflexos. As barreiras para as mulheres entrarem no mercado de trabalho se mostram presentes, mesmo com os avanços das décadas passadas. A taxa de participação feminina nesse setor se manteve entre 54% e 55% em 20 anos (1995-2015). Isto significa que quase metade das brasileiras em idade ativa está fora do mercado de trabalho, contra 20% dos homens na mesma situação ('Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça', IBGE - 2018).

E não para por aí. As que se lançam no mercado de trabalho muitas vezes se deparam com uma barreira que as impede de alcançar posição mais elevadas. Somente 37,8% dos cargos gerenciais existentes no país são ocupados por mulheres. E elas ganham cerca de 32% a menos do que homens que cumprem as mesmas tarefas, apesar de estudarem mais (a mulher tem, em média, oito anos de estudo; o homem, 7,6 anos). Falta, também, representatividade. Hoje as mulheres são 52% do eleitorado no Brasil, mas têm ocupado apenas 10% dos cargos políticos eletivos.

O machismo é danoso e precisa ser combativo. Não podemos mais lidar com isso como algo menor, que não gera prejuízos. Há que se debater o tema em todas as esferas de poder. Em todos os cantos desse país. Há que se dar voz à luta feminina. Para que a sociedade, como um todo, possa transformar essas vozes em um instrumento de mudança cultural que embase políticas públicas voltadas para a redução dessas disparidades. A atitude de mudança é diária. E deve partir de mim, de você da sociedade como um todo!

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