Gabriel Chalita, colunista do DIA - Divulgação
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Por Gabriel Chalita Professor e escritor

Maquiavel, um dos fundadores da ciência política moderna, queria saber se, para se manter no poder, era melhor ser amado ou temido. O poder, ao qual se refere o filósofo florentino, parece ser o poder do príncipe ou de quem governa. Mas o poder é exercido em todas as relações sociais.

No poder familiar, é melhor aos pais serem amados ou temidos?

No poder que tem um professor, em uma sala de aula, é melhor que seja ele amado ou temido? No poder que um líder exerce sobre os seus liderados? Um diretor de uma empresa, por exemplo, é melhor que seja amado ou temido?

Vamos voltar a Maquiavel e ao seu tempo. Explicava ele que era bom que fosse amado e temido, mas que, se precisasse escolher, era o temor mais fácil de se controlar do que o amor.

Um pai que é temido por seu filho faz com que o seu filho lhe obedeça com mais facilidade. Um professor que impõe medo aos seus alunos consegue exercer o seu poder com mais tranquilidade. Mas o que quer um pai? O que quer um professor? O temor é o objetivo que os impulsiona a agir ou é o amor?

O amor é mais trabalhoso, é mais inconstante, é mais dialogal. O amor exige mais explicações, mais compreensões, mais atitudes. O temor paralisa e pronto. Está resolvido. Não coloco a mão naquela grade porque dá choque. E não há nada que eu possa fazer para sair. O amor faz com que eu não saia, porque escolhi ficar. É aqui, onde estou, o meu lugar.

Nas relações de amor, não pode ser o temor a dar o tom. Imagine uma mulher que nada faz com medo de seu marido. Ou o contrário. O marido obedece com medo das reações imprevisíveis da mulher. O que se faz a quem se ama se faz com delicadeza, se faz com liberdade, se faz em decorrência de um sopro especial. Nada de barulhos ou de ameaças. Mas de sussurros. De dizeres nobres, de silêncios que também dizem.

Que prazer tem um professor quando percebe que todos os alunos estão em sala de aula, não por terem medo de repetir por falta, mas por acreditarem que aquele é o lugar em que devem estar. Que aquela aula muda a vida deles. Que os conhecimentos os encorajam a viver desbravando o universo.

Um líder, quando é amado, terá mais trabalho para convencer os seus liderados do que um líder que é temido. Se o líder tem armas amedrontadoras à sua disposição, se impõe regras duríssimas, se determina punições severas, será facilmente obedecido. Mas é esse o papel do líder? Liderar é algo muito mais profundo. É ter uma autoridade significativa. Autoridade vem de "autor". O líder é aquele que faz com que todos se sintam tão autores quanto ele do sonho coletivo de melhorar o mundo. E, para isso, é mais belo que suas palavras e ideias sejam amadas e não temidas.

Nunca temi o meu pai. Sua voz branda. Seu passo suave. Seu olhar profundo. Eram de amor. Hoje, o que me habita é a saudade de um tempo e de um espaço único que era viver com ele. E, quando me lembro dele, certifico-me ainda mais de que o tempo nos ensina que é o amor e não o temor que permanece. O que mais faz viver o que ele ensinou, certamente, não é o medo, mas a admiração que um líder simples semeou em mim.

A colheita é o sonho daqueles que semeiam. Mesmo que demore. Mesmo que tudo pareça inverno.

Perdoe-me, Maquiavel, fico com o amor.

Gabriel Chalita é professor e escritor

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