Luís Pimentel, colunista do DIA - Divulgação
Luís Pimentel, colunista do DIADivulgação
Por Luís Pimentel Jornalsta e escritor

Rio - Geraldo Pereira e Wilson Batista são dois gênios da música brasileira. Estão entre os maiores compositores de samba de todos os tempos. Geraldo teria feito 100 anos esta semana (nasceu dia 23 de abril de 1918, dia em que também nasceu Pixinguinha, é Dia de São Jorge e Dia Nacional do Choro); Wilson morreu há 50 anos (em 1968) e nasceu há 105 (1913). Ambos chegaram jovenzinhos ao Rio de Janeiro (Geraldo vindo de Juiz de Fora, MG, e Wilson de Campos, RJ) e enfrentaram dificuldades muito parecidas para viverem a música ou sobreviverem dela.

Wilson encarou várias polêmicas em sua vida atribulada: com "comprousitores" que lhe compraram sambas e não quiseram pagar. Com mulheres e com traficantes de quem, no fim da vida, comprava drogas na ilusão de aliviar a angústia provocada pelo esquecimento profissional. A mais importante foi a polêmica com Noel Rosa, já registrada em disco. Geraldo compunha bem, mas bebia mal. Que nem o "Escurinho" do seu samba, tinha "mania de brigão". Se meteu em arranca-rabos homéricos, o último deles com o lendário Madame Satã. Levou a pior (história que todo mundo conhece e jamais se soube ao certo como se deu): recebeu uma pernada e um soco, caiu, machucou a cabeça e foi levado para o hospital, de ontem não mais saiu (morreu alguns dias depois, só que não da pancada, e sim de hemorragia digestiva).

Foram contemporâneos e frequentaram mais ou menos os mesmos ambientes. Pouco compuseram juntos (talvez pela dificuldade de harmonizar os excessos de talentos), sendo a parceria mais conhecida o samba de breque "Acertei no milhar", sucesso na voz de Moreira da Silva. O mais velho dos dois, Wilson Batista, descobriu ainda jovem certa intimidade com a malandragem carioca. Deitou e rolou ao lado da turma que vivia de expedientes, a maioria com livre trânsito no mundo da música, como Valdemar da Babilônia, João Cobra, Mané da Carretilha, Nina do Estácio, Brancura, Gaguinho Bicheiro e também o Satã.

Como boa parte dos malandros, falsos ou não, e boa parte dos artistas que fizeram o prestígio da MPB, Wilson morreu na miséria. Consumido pela droga, o álcool e a depressão, lesado pelas sociedades arrecadadoras de direitos autorais e abandonado pela maioria dos amigos. Geraldo Pereira viveu apenas 37 anos (morreu em 1955), também duro, mas sua obra valiosíssima tem sido revisitada e regravada (bem como a de Wilson) em vários momentos e por nomes marcantes da MPB. Em 1980 o cantor e compositor João Nogueira gravou o LP Wilson, Geraldo e Noel, com músicas de Wilson Batista, Geraldo Pereira e Noel Rosa. Talvez o momento mais rico e bonito da sobrevida desses dois gênios.

Mas qual a razão para juntar Wilson Batista e Geraldo Pereira numa mesma crônica? A rigor, nenhuma. É que sou fã dos dois e não me canso de enaltecer a memória deles.

Luís Pimentel é jornalsta e escritor

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