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Por Tatiana Roque Professora de Matemáica e Filosofia da UFRJ

Não há muito o que comemorar neste Dia do Trabalho. O desemprego, de 13%, só não é menor porque o trabalho informal, o 'se vira nos trinta' do brasileiro, funciona como um calmante para os índices. Junto com os desempregados, no entanto, cresce o número de pessoas que fazem uso de tranquilizantes porque não estão felizes com seu trabalho. Uma solução imediata seria o estímulo ao crescimento da economia com investimentos públicos, que a dupla Temer-Meirelles vem cortando. Programas de transferência de renda, como Bolsa Família, valorização do salário mínimo e crédito para os mais pobres são medidas que fazem a economia girar, pois incentivam o consumo dos que têm menos renda.

Soluções estáveis, a médio e longo prazo, são mais difíceis. O mundo do trabalho vem mudando de forma irreversível com a proliferação de robôs. Fábricas de automóveis já usam automação em grande escala e desempregam sem parar. O problema vem inquietando até a maior economia do mundo, a dos Estados Unidos. Os trabalhadores dispensados pelas montadoras têm dificuldade em se recolocar em novos setores, como o de cuidados com crianças, idosos e doentes. Os empregos perdidos em uma área não são recriados na mesma proporção em outras. Isso tende a piorar com tecnologias como a do carro sem motorista. Imagine a situação de uma pessoa que, devido à perda do emprego ou ao baixo salário em um bico, decidiu dirigir um Uber e vê o aplicativo investindo pesadamente em pesquisas sobre o carro autônomo.

Antigamente, acreditava-se que habilidades humanas como andar de bicicleta e dirigir carros - os "conhecimentos tácitos", quase instintivos - não poderiam ser substituídas por máquinas. Hoje podem; os testes estão avançados. Claro que os futuros carros precisarão de manutenção, e haverá emprego para especialistas naquela tecnologia, mas nada que compense, nem de longe, o volume de postos de trabalho eliminados. Taxistas, motoristas de Uber e motoristas de caminhões estarão no mesmo barco.

Duas medidas são necessárias para o Brasil entrar na nova era de cabeça erguida. A mais óbvia é investir em um modelo de Educação que integre disciplinas e prepare os jovens, com uma visão ampla de mundo combinada com o saber técnico. É a direção oposta da ilusória especialização obtida da divisão estática de áreas de conhecimento.

A segunda medida é a garantia de uma renda básica para todas as pessoas. Seria uma ampliação do Bolsa Família, como o projeto de renda mínima, de autoria do ex-senador Eduardo Suplicy. A renda básica universal para todos os brasileiros adultos custaria 4,6% do PIB, segundo o FMI. Pode ser implementada aos poucos, começando pelos jovens. Quem não atenta para as prioridades pode achar caro, mas não é difícil compreender que a importância disso para o progresso e a segurança do país é muito maior do que a do excesso de mordomias nos Três Poderes, o auxílio-moradia, pensões altas para filhas de militares, anistias de dívidas de grandes empresas junto ao INSS, algumas desonerações fiscais absurdas e o perdão sistemático de dívidas de financiamento ao latifúndio.

Com o Bolsa-Família, o Brasil entrou para o grupo de países de vanguarda na experimentação de modelos de distribuição de renda. É preciso avançar nessa direção para enfrentar o drama da destruição dos postos de trabalho, que tende a crescer em todo o planeta. É preciso preparar os jovens para as mudanças no mundo do trabalho e evitar que os mais pobres sejam obrigados a aceitar trabalhos em condições degradantes, um cenário de humilhação e violência no qual ninguém sai ganhando.

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