Catia Mourão - Divulgação
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Por Catia Mourão Escritora e editora da Ler Editorial

Rio - É cada vez mais comum ouvirmos escritores se queixando das editoras, seja por não darem retorno sobre os originais enviados para avaliação, por atraso no pagamento de royalties, pela falta de oportunidade aos novos autores que surgem diariamente ou ainda por não investirem de forma esperada na divulgação das obras publicadas.

Já livreiros e distribuidores, que estão do outro lado da corda, reclamam das promoções realizadas de forma direta pelas editoras, alegando que com isso elas estão criando uma competição injusta, que deveriam se dedicar apenas a produzir livros e deixar a comercialização por conta das livrarias. Mas vamos analisar melhor a questão.

São essas empresas, as casas editoriais de grande ou pequeno porte, que subsidiam toda a cadeia do mercado brasileiro, habituado a uma prática comercial desumana, onde distribuidoras, redes livreiras e até pequenas livrarias trabalham exclusivamente com mercadorias consignadas e descontos surreais, que podem atingir até 60% do valor de capa de um livro. Sem falar nos longos prazos de pagamento impostos às editoras após a concretização das vendas, que atingem até 120 dias, além das despesas com transporte e constantes devoluções de livros empoeirados e, muitas vezes, danificados, após longos períodos de exposição nas lojas. As editoras arcam com os altos custos para a produção dos livros e assumem sozinhas todos os riscos do negócio.

Não bastasse todo esse caos, ainda precisam enfrentar problemas de inadimplência causados por conta da crise, que desde 2017 vem atravancando o fluxo de caixa dessas empresas e levando pequenas editoras à beira da falência.

E pra fechar o ciclo de declínio, nas últimas semanas tivemos uma sucessão de notícias que deixou o mercado editorial de cabelo em pé. Redes livreiras renomadas fechando lojas sucessivamente por todo o país, sem previsão de quando quitarão os débitos com as editoras, a detentora da maior fatia do mercado anunciando que estenderá ainda mais o prazo de pagamento, pois se encontra sem condições de quitar os valores devidos pelos livros já vendidos e uma das maiores distribuidoras de livros do Brasil entrando em recuperação judicial.

Infelizmente, o que se desenha para o futuro da cadeia editorial é um período negro, marcado por grandes turbulências, com pequenas editoras se preparando para fechar as portas por não terem mais condições de arcar com seus compromissos diante do calote generalizado que se instaurou; com grandes editoras cancelando contratos de publicações, autores abandonando a escrita para se dedicar a outras áreas onde possam obter seu sustento e centenas de profissionais despejando seus currículos em massa, em um mercado que já não tem a menor condição de absorver a demanda.

Tempos difíceis para quem acreditou que seria possível viver de literatura no Brasil.

Catia Mourão é escritora e editora da Ler Editorial

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