Ana Lucia Telles Fonseca - Coren
Ana Lucia Telles FonsecaCoren
Por Ana Lúcia Telles Fonseca Pres. do Conselho Reg. de Enfermagem-RJ

Estamos na Semana Mundial da Enfermagem (12 a 20 de maio). Eu sou enfermeira, com mais de 40 anos de serviço, e na data de hoje ganho um presente de valor inestimável: poder levar a vocês, leitores e leitoras de O DIA, algumas informações sobre o trabalho de profissionais cujas difíceis rotinas talvez lhes escapem o entendimento.

Leitores, a enfermagem, que é considerada a profissão das mais estreitas relações com o ser humano desde os primórdios do mundo, anseia pelo seu reconhecimento. Diferente do médico, que diagnostica doenças, indica exames e prescreve medicamentos, o trabalho da enfermagem é o cuidar, a assistência, a vigilância 24 horas do recém-nascido ao enfermo, observando suas medicações, reações, evoluções e cuidando do seu conforto e higiene.

Não, não somos 'anjos de branco' e recusamos este emblema de pseudodivindades. Somos profissionais por vocação e não em busca de fortuna. Estudamos muito, nos abastecemos e nos atualizamos de conhecimentos técnico-científicos diuturnamente para melhor prestar serviço à sociedade. Mas, o trabalhador da enfermagem também é gente, e gente esgotada, estafada, também adoece. E quando quem cuida do doente cai de cama, o problema extrapola do social para o colapso; sem enfermagem, que compõe 60% dos quadros da saúde, quem vai cuidar dos enfermos?

A enfermagem é uma nação de mais de dois milhões de profissionais. Trata-se da maior massa de trabalhadores da saúde no Brasil e a segunda maior força de trabalho do país, perdendo somente para a construção civil. Há anos lutamos por reconhecimento, respeito e valorização. Nossa maior peleja é pela jornada de 30 horas semanais em âmbito nacional. Mas, até hoje, os nobres legisladores do Congresso Nacional só desprezaram a nossa histórica e justa reivindicação.

No Rio de Janeiro não é diferente. Desde que o governador vetou a regulamentação do piso salarial regional para a enfermagem, em jornada de 30 horas, estamos em plena batalha. Segundo o governador, um reajuste de 5% no salário (baixos) dos profissionais, levaria à falência a saúde privada! Pezão afirma que o aumento quebraria os grandes grupos particulares de hospitais, clínicas, inclusive as ditas beneficentes, que fazem benefício à base de dinheiro. Até hoje, a questão entra e sai da pauta da Alerj por falta de quórum.

Constrangidos, assistimos semanalmente na Alerj, a 'Casa do Povo', uma atitude debochada e descarada da base do governo. Para que não seja votada a manutenção ou a derrubada do veto, os deputados da situação simplesmente esvaziam o plenário. Uma conduta de desrespeito, abuso e acinte para com a audiência, incompatível com a postura de servidores públicos eleitos para defender a população e não a sua clientela.

Há semanas a enfermagem vem militando, lotando as galerias, apelando pela empatia e fazendo corpo-a-corpo com os deputados. Para dar em nada. O baronato da saúde privada está sempre lá também - de olho na turma que vota - para garantir o lobby que deverá costurar a vitória do lucro.

Enquanto isso não se resolve, a enfermagem continua em ação, trabalhando em turnos puxados, plantões desumanos, exaurindo-se e adoecendo. Na Semana da Enfermagem o que pedimos à sociedade é socorro!

Você pode gostar
Comentários