Encontro em Solidariedade ao Pastor Kleber Lucas. Aconteceu no Salão Nobre do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Na foto Ivanir do Santos, Babalawo. Foto: Daniel Castelo Branco / Agência O Dia - Daniel Castelo Branco / Agência O Dia
Encontro em Solidariedade ao Pastor Kleber Lucas. Aconteceu no Salão Nobre do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Na foto Ivanir do Santos, Babalawo. Foto: Daniel Castelo Branco / Agência O DiaDaniel Castelo Branco / Agência O Dia
Por Ivanir dos Santos Babalaô

Rio - No último dia 13 de maio, rememoramos os 130 anos de abolição do trabalho escravo nos Brasil. O país foi a ultima nação a extinguir essa forma de trabalho, que vigorou por longos e árduos 300 anos e tinha como base o trabalho forçado de milhares de negros e negras, oriundos dos países africanos, que aqui aportaram na condição de escravos.

A data não é para ser celebrada ou comemorada como um marco em nossa sociedade, mas sim questionada a fim de nos levar a pensar sobre os vários processos de resistências e sobrevivências que começaram a ser construídos antes e depois da assinatura da Lei Áurea e que não têm visibilidade pela historiografia tradicional. E dentro desse processo, de pensar os processos de resistências após a abolição, quero ressaltar um evento singular que marcou o final da década de 1980, a Marcha contra a Falsa Abolição. A Marcha contra a Falsa Abolição, idealizada e realizada pelos movimentos negros, levou, há trinta anos, um grande grupo de homens negros e mulheres negras a caminharem junto sobre a Avenida Presidentes Getúlio Vargas, na cidade do Rio de Janeiro, em protesto contra a falsa abolição, que na ocasião seria "comemorada" pelas autoridades públicas pelo marco dos seus cem anos de promulgação.

A caminhada, que ganhou o nome de "Marcha contra a Falsa Abolição", trouxe por detrás do ato não apenas os anseios de rememorar à sociedade brasileira que a liberdade dos negros e negras, descendentes de africanos e africanas, não foi algo "dado" pela monarquia portuguesa, mas, sim, um processo de lutas e resistências que se fortificou ao longo dos processos históricos. Resistências essas que fizeram frente ao racismos, aos processos de segregação invisíveis e a um falso discurso de democracia racial que ainda paira sobre a sociedade brasileira. E é justamente sobre esse processos de resistência que a figura do líder imortal, Zumbi dos Palmares, foi arqueada como o grande personagem de luta contra o preconceito, desumanidade e todos os tipos de intolerância fomentados pelo racismo no Brasil.

Hoje, trinta anos depois da "Marcha", nos vemos diante de tudo o que o pós 13 de maio significou e ainda significa para milhares de negros e negras no país, um legado de lutas e resistências que frutificou, como a promulgação da Lei Caó, que torna crime a prática de racismo, da aprovação da lei 10.639, que institui como obrigatório o ensino de Histórias e Culturas Africanas e Afro-brasileiras em todas as fases de ensino e aprendizagem, e a Lei das Cotas, que prevê um número de vagas reservadas em concursos públicos para as pessoas que se autodeclaram negras. Mesmo diante de algumas conquistas da população negra, após o 13 de maio, ainda lutamos e vamos lutar todos os dias para que nossas resistências não caiam no esquecimento e que possam servir de fortalecimento para as próximas gerações.

Ivanir dos Santos é babalaô

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