Atendimento de tuberculose em Malawi - Luca Sola
Atendimento de tuberculose em MalawiLuca Sola
Por O Dia

Rio - S.M.R.E, 35 anos, sexo feminino, apresentou febre, perda de peso, falta de apetite e cansaço diante das atividades habituais. Casada, mãe de dois filhos. Os sintomas se arrastavam por meses; quando se sentiu muito debilitada, procurou ajuda médica. O diagnóstico veio depois de vários exames e suspeitas: tuberculose ganglionar. A paciente iniciou o tratamento e já se sente melhor.

A história acima se refere a uma figura pública, a famosa cantora Simaria, que faz dupla com a irmã Simone. Mas é semelhante ao relato médico de milhares de mulheres, assistidas por projetos de Médicos Sem Fronteiras pelo mundo. O fato de ela ter tido a coragem de expor publicamente a sua doença nos ajuda a dar voz e visibilidade a uma situação que aflige os menos favorecidos no Brasil e no mundo.

Esta é a doença infecciosa que mais mata atualmente. A cada 18 segundos, uma pessoa morre por tuberculose.

E chama muito a atenção quando o problema atinge uma pessoa fora do perfil típico - pessoas pobres e que vivem em condições insalubres respondem por 95% dos casos. A doença é passada de pessoa a pessoa, por portadores de sua forma pulmonar, principalmente pela tosse, mas também pela fala e pelo espirro. Após duas a três semanas do início do tratamento adequado, já não existe mais o risco de transmissão. Objetos, abraços e carinho não transmitem a doença.

Hoje em dia, além de ser um grave problema sanitário, a tuberculose emerge também como uma questão política e social, levantando sérias questões governamentais e chamando a atenção para a maneira como todos nós tratamos as pessoas mais vulneráveis. Moradores de favelas, pessoas em situação de rua, indígenas, quem está privado de sua liberdade, desnutridos, pessoas vivendo com HIV e outras condições que reduzem a imunidade são os principais grupos com "portas abertas" para ser infectados e adoecer por tuberculose.

Além de trabalhar cuidando de pessoas com tuberculose em 26 países (com 68 projetos), Médicos Sem Fronteiras está ativamente engajada em pesquisas e ensaios clínicos que buscam tratamentos e exames diagnósticos mais eficientes, menos adversos e mais rápidos. Hoje o tratamento mais básico leva pelo menos seis meses e é feito com quatro remédios. Porém, nos casos em que este não funciona, os tratamentos indicados podem levar mais de dois anos, com mais de dez comprimidos por dia, além de injeções dolorosas e muitos efeitos colaterais.

A tuberculose resistente ao tratamento básico, conhecida pela sigla TB-MDR, foi assumida como um grave problema em 2014 e novamente em 2017, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a forma da doença como uma 'emergência global'. Maiores esforços são necessários para o enfrentamento deste problema sanitário e ainda estamos muito longe de uma solução.

Rafael Sacramento é Infectologista de Médicos Sem Fronteiras

Você pode gostar
Comentários