Rio - Em conversas com professores, coordenadores e profissionais da escola, que trabalham em instituições públicas e particulares, escuto sempre o comentário de que um dos grandes desafios para a educação dos seus alunos está na relação com as famílias.
Encontramos dois contextos mais comuns: há escolas em que as famílias tendem a não se interessar em acompanhar o desenvolvimento dos filhos. Mantêm certa distância, comparecem poucas vezes às reuniões pedagógicas. Na maioria das vezes não sabem o que é ensinado e até desconhecem as notas dos rebentos.
Este estado de coisas é muito comum em regiões mais pobres, de baixo poder aquisitivo. Já dizia o sociólogo francês Pierre Bourdieu que o legado econômico das famílias transforma-se em capital cultural. Assim, a escola torna-se um espaço de reprodução de estruturas sociais. A frustração com o fracasso escolar leva muitos pais a investirem menor esforço no aprendizado formal.
Nos contextos das escolas com alunado de maior renda, geralmente as particulares, ocorre o extremo oposto. Há uma tentativa de interferência nas ações dos docentes, em razão do capital econômico.
Os professores relatam a falta de liberdade para dar uma simples nota, ou fazer algum comentário, ou até repreender seus estudantes, quando estes são extremamente protegidos pelos pais.
Nesses dois casos, não seria exagero que além dos filhos, houvesse classes para pais, a fim de que eles conhecessem mais de perto a dinâmica do cotidiano escolar e debatessem juntos com os professores acerca do papel de cada um na formação de crianças e adolescentes. Essa aproximação permitiria mais diálogo, menos confronto, mais colaboração.
Fala-se muito da desvalorização do professor. Pensa-se primeiramente nas questões salariais. Porém, há também certo demérito e descrença da importância do seu papel na sociedade.
Questiona-se a autoridade do professor com maior frequência do que a autoridade do médico, do advogado, ou de algum outro especialista. No entanto, o que acontece de melhor na educação em nosso país decorre da conivência construtiva entre escola, família e aluno. Os relatos de sucesso estão sempre ligados a estratégias locais que preconizam uma estreita cooperação entre esses atores.
Ademais, se professores precisam acreditar em seus alunos, os pais, por sua vez, precisam acreditar nos professores de seus filhos.
Eugênio Cunha é professor e jornalista