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Por O Dia

Rio - Para a gente ganhar uma Copa tem de estar bem longe do Brasil. A de 1950 perdemos do Uruguai por excesso de confiança, que incluía a ignorância em relação ao adversário, o vizinho que já havia sido nossa Provincia Cisplatina até o ano de 1828, quando se transformou em República Oriental do Uruguai.

Ocorre que, em 1950, o Uruguai já havia ganhado dois campeonatos mundiais de futebol, nas Olimpíadas de 1924, em Paris, e 1928, em Amsterdã, quando ainda não havia Copa do Mundo.

Logo na primeira Copa da Fifa, dois anos depois, o Uruguai também saíra vencedor, em 1930, no estádio Centenário de Montevidéu. Apesar desse invejável currículo, ninguém deu muita bola para o Uruguai em 1950, no quadrangular final da Fifa, pela primeira e última vez na história da competição. Afinal, o Brasil já havia derrotado a Suécia por 7 a 1, e a Espanha por 6 a 1. Por isso mesmo, ninguém levou fé naquela camisa celeste olímpica desbotada que entrava em campo.

E a derrota por 2 a 1, quando o Brasil só precisava de um empate, foi uma enorme desilusão para o país que tinha apostado tudo na conquista da Copa, com o Maracanã suportando um público de 200 mil pessoas, 10% da população do Rio de então. Era ganhar a Copa para merecer respeito dos europeus.

Em 2014 foi a mesma coisa, quando o técnico do Brasil, de novo para impor respeito, resolveu partir para o ataque com tudo sobre os alemães. Levamos de 7 a 1.

Assim como em 1950, a Copa de 2014 no Brasil teve excesso de badalação de todos os tipos, o que acabou por contaminar jogadores e equipe técnica, a ponto de a vitória passar a ser uma obrigação absoluta, uma exigência do povo e da imprensa de seu país, levando a um paralisante desequilíbrio nervoso dos envolvidos.

Nossa primeira Copa, em 1958, foi conquistada a 10.695 km do Rio, em Estocolmo, longe da pressão patriótica. Moscou é melhor ainda. Fica a 11.537 km do Rio, suficiente para diminuir a influência dos nossos compatriotas campeões do baba-ovismo.

Além da distância adequada, temos outros sintomas que indicam que o hexacampeonato está próximo: um time muito firme na defesa, e com a orquestra do ataque regida pelo maestro Neymar, onde despontam talentos inspirados que há tempos não reuníamos, alguns com sotaquinho lá dos países onde jogam.

Graças ao 7 a 1 da última Copa, pudemos chegar até aqui sem exageros e vamos assistir com serenidade ao Brasil ganhar o hexa.

Roberto Muylaert é jornalista e editor

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