Por Luiz Fernando Dale Especialista em Medicina Reprodutiva

Rio - A Medicina da Reprodução foi uma das especialidades que mais cresceu nos últimos 30 anos. Com este progresso vieram os 'bebês de proveta', os clones, a "barriga de aluguel", banco de óvulos e esperma, diagnóstico de doenças ainda no embrião de laboratório, assuntos médicos que caíram no conhecimento do público leigo.

A medicina sem dúvida avançou, e hoje conseguimos tratar e obter gestações em situações não imaginadas alguns anos atrás. Aliado a isso, a mídia de saúde foi rica em publicações exortando as possibilidades médicas. Mas nem tudo foi resolvido, e nem o maior avanço médico conseguirá suplantar a natureza. O ser humano é pouco fértil! Como é possível, se vemos mulheres engravidando sem planejamento, o famoso "sem querer"?

Um casal na faixa de 30 anos, sem nenhuma dificuldade para engravidar, terá a cada ciclo menstrual cerca de 30% de chance de gestação. A medida que a idade feminina aumenta, a chance gestacional diminui e o risco de aborto e malformações aumenta, podendo se afirmar que uma mulher acima de 40 anos, verá as chances de fertilidade, diminuírem a 5/10% apenas.

Esta queda acentuada deve-se ao fato de que o óvulo humano nasce com a mulher com uma carga genética de 23 pares de cromossomos. Algumas horas antes de a mulher ovular os pares se separam, o óvulo elimina metade dos cromossomos, ficando apto a receber os 23 cromossomos vindos do espermatozoide. Neste processo ocorrem erros, que impedirão os óvulos de fertilizar, engravidar, erros que levarão a aborto e erros que poderão chegar ao nascimento (por exemplo, no caso da Síndrome de Down).

A vida moderna levou a mulher a estudar, ter emprego, crescimento profissional e, aí sim, casar e ter filhos. Só que isto tudo leva tempo e quando ela se dá conta já está no meio ou fim da terceira década de vida. Com o potencial do ovário diminuído, vai enfrentar os consultórios de infertilidade, com desgaste físico, emocional e financeiro.

Deveríamos, nós ginecologistas e especialistas, alertar nossas pacientes a partir dos 30 anos, de que nossa natureza é inexorável, os avanços da medicina não conseguem reverter os desígnios da idade, e que todo este conhecimento, veio para ajudar um sem numero de casais, mas não reverte o fator idade.

O congelamento de óvulos, já considerado um tratamento não mais experimental, pela Sociedade Americana de Medicina da Reprodução, tem sido a maneira que temos de postergar o momento da concepção. Não estamos garantindo uma gravidez, nem guardando um bebê, mas podemos oferecer a possibilidade de gestação futura, baseada nas chances daquele momento.

Outra indicação tão importante quanto, é o congelamento de óvulos em pacientes jovens, com diagnóstico de câncer, em que o tratamento quimio e ou radioterápico irá destruir o tecido ovariano. Estas pacientes, ao serem consideradas curadas, estarão ainda em idade reprodutiva. Poderão usar seus óvulos jovens, em uma tentativa de engravidar, não importando a idade. Avançamos, evoluímos, mas devemos aceitar que a natureza pode ser invencível.

Luiz Fernando Dale é especialista em Medicina Reprodutiva

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