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Por Luís Pimentel Jornalista e escritor

"Todo mundo vai ao circo, menos eu/Como pagar ingresso, se não tenho nada?/Fico de fora escutando as gargalhadas".

O autor dessa música, que já mereceu gravação muito bonita por Maria Bethânia, chamava-se Oscar da Penha e nasceu em 1924, em Salvador, Bahia. Conhecido na Música Popular Brasileira - onde faz parte da galeria reservada aos maiores - como Batatinha, morreu em 1997. Amigo e parceiro dos compositores Riachão, Panela, Edil Pacheco e Ederaldo Gentil, com os quais formou o quinteto sagrado do samba da boa terra, Seu Oscar jamais conseguiu viver de música.

Gráfico por profissão, trabalhou até se aposentar na linotipia no 'Diário de Notícias' em Salvador. Em sua última entrevista, publicada no ano de sua morte, Batatinha disse que começou a compor e a cantar quando ouviu pela primeira vez um samba de Vassourinha. E teve a certeza de que não pararia mais quando sentiu as fortes influências do samba carioca: "O samba carioca era o que a gente mais ouvia. O que poderíamos fazer se nós não gravávamos? A gente tinha que seguir a malandragem carioca. Depois caí fora daquelas influências todas, né? Me personalizei".

Por personalizar entenda-se pegar o rumo do samba baiano, os temas regionais e culturais da Bahia. No início dos anos 40, o compositor ainda era apenas Oscar, office-boy (depois tornou-se linotipista) de jornal.

Nessa época, chegou a Salvador o jornalista e compositor Antônio Maria, para dirigir a Rádio Sociedade da Bahia. Batatinha procurou Maria e apresentou para ele o seu primeiro samba: 'Inventor do trabalho' ("O tal que inventou o trabalho/Só pode ter uma cabeça oca/Pra conceber essa ideia louca"). Começou a se apresentar na Rádio Sociedade, no programa 'Campeonato do Samba'.

"Depois fiz uma série: "Olha aí o que é que há?", "Iaiá no samba", "Eu sou o cobrador" e muitas outras. Comecei a apresentar meus rascunhozinhos e minhas besteiras na década de 40".

Depois, seus "rascunhozinhos" foram sendo passados a limpo em diversos ritmos. Fez marchas, músicas para o carnaval, sambas de roda, samba-canção, sozinho ou com os parceiros mais variados. O apelido foi dado por Antônio Maria, na apresentação para o programa: "Com vocês, Oscar da Penha, o Batatinha". Depois explicou: "Fica todo mundo te chamando de Vassourinha, por causa do samba. Vassourinha é lá em São Paulo, rapaz. Aqui temos o Batatinha". E ficou, para sempre.

Batatinha teve suas músicas gravadas por Jamelão, Nora Ney, Tião Motorista, Caetano Veloso, Maria Bethânia e outros. Teve também grande parceiros: J. Luna, Jamelão e Paulo César Pinheiro estão entre eles. E deixou três discos gravados, todos fora de catálogo ('Samba da Bahia', 1973; 'Toalha da saudade', 1976; e o disco comemorativo do seu cinquentenário artístico, 'Batatinha, 50 anos de samba', feito em 1993).

A Bahia tem muitos artistas ilustres, alguns com suas obras reconhecidas no mundo inteiro. Mas é preciso que nunca se esqueça desse poeta popular de alta nobreza, que jamais saiu de Salvador, mas produziu uma obra para se ouvir em qualquer lugar.

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