Geraldo Nogueira, subsecretário da Pessoa com Deficiência  - Daniel Castelo Branco / Agência O Dia
Geraldo Nogueira, subsecretário da Pessoa com Deficiência Daniel Castelo Branco / Agência O Dia
Por Geraldo Nogueira*

Adotar uma criança é opcional para o indivíduo ou casal que deseja ser pai ou mãe. Mas, independentemente do que venha motivar essa escolha, a chegada da criança adotada será a realização do desejo de ter um filho. Contudo a etapa antecedida pela tomada de decisão por adotar, quase sempre, carrega inúmeros mitos e preconceitos advindos do desconhecimento sobre o processo que envolve uma adoção.

O Cadastro Nacional de Adoção (CNA) reúne mais de 40 mil interessados, dos quais 78% só aceitam crianças até 5 anos, 17% querem crianças brancas, 63% não adotam as que têm doenças ou deficiências e 64% não estão abertos a receber crianças com irmãos. Por outro lado, o CNA registra, aproximadamente, 9 mil crianças à espera de um pai ou de uma mãe que as recebam como filho ou filha para formar uma família. Destas crianças, mais de 73% são maiores de 5 anos, 66% são negras ou pardas, 59% possuem irmãos e 26% têm alguma doença ou deficiência. Vendo estes números clarifica-nos o fato do por que existem tantas crianças nos abrigos e também por que se espera tanto para concretizar um processo de adoção.

Geralmente, as crianças que aguardam por adoção e sonham com a proteção de uma família vêm de um processo de exclusão que envolve perdas, separação, violência, drogas, subnutrição e outras circunstâncias que as deixaram vulneráveis. Adotar uma criança não é um ato de encomendar um filho perfeito, aquele que só existe em sonhos. Antes de tudo é assumir o propósito de conhecer, respeitar e amar uma pessoa com sua história de vida, sua identidade e características individuais. Na convivência é que pais e filhos construirão uma relação de proteção, amizade, respeito e amor. A sabedoria está em aceitar percorrer o caminho com coragem, em dispor-se a aprender com os trechos que dão prazer e com os que nos impõem desafios.

Filho ideal não existe, seja biológico ou adotivo. Portanto, a paternidade ou maternidade passará pelo desafio da convivência diária, através da qual será construído o novo futuro. Com o tempo percebe-se que os filhos, sejam biológicos, adotados ou em qualquer condição de vida, precisam mesmo é serem amados. Cabe aos pais amá-los, protegê-los e fazer de tudo para que progridam e sejam felizes. No final, a idade, a etnia, a condição de doença ou deficiência são somente componentes da diversidade humana, que não agregam ou desagregam valor, pois o que importa é o amor de pai ou de mãe, quase sempre incondicional.

(* Subsecretário da Pessoa com Deficiência no Município do Rio de Janeiro)

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