André Esteves - Divulgação
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Por O Dia

Rio - No imaginário de muitas pessoas, a lama e o cheiro forte característicos do mangue trazem a impressão de um lugar sujo e pouco atrativo. Coisas do senso comum, com suas ideias rasas que trazem consequências profundas. A questão é que ainda são muito poucos os que tem consciência da importância vital dos manguezais para o equilíbrio ecológico no planeta. Isso é evidente pelo fato de esses ecossistemas costeiros estarem sendo depredados ao ponto de sua sobrevivência já estar ameaçada no planeta.

No momento, a situação é de alarme. Não é por acaso que desde 2016 a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) comemora o dia 26 de junho como o "Dia Internacional de Preservação dos Manguezais".

Precisamos conhecer para podermos proteger. A vida nos mangues é rica e abundante. Sua biodiversidade proporciona condições muito favoráveis para o abrigo, a alimentação e a reprodução de inúmeras espécies. Além disso, ele é um grande aliado no combate às mudanças climáticas e seus efeitos extremos. Por exemplo, a sua capacidade de retenção de gás carbônico impede que este vá para a atmosfera e provoque o chamado "efeito estufa".

De acordo com a atual diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, os mangues constituem, ainda, "uma proteção contra tempestades, tsunamis e o aumento do nível do mar", e também "impedem a erosão da costa, regulam a qualidade da água costeira, mantêm áreas de pesca e contribuem para melhorar a segurança alimentar de muitas comunidades costeiras".

Salve o mangue! Berçário e protetor da natureza! É inadmissível que ele corra o risco de desaparecer. Precisamos acordar! Em 40 anos a área global de mangues foi reduzida pela metade, segundo dados da Unesco. Já de acordo com o nosso Ministério do Meio Ambiente (MMA), estima-se que 25% dos manguezais brasileiros já tenham sido completamente destruídos. E saibam vocês que o Brasil possui a segunda maior faixa de manguezais do mundo. Nossa negligência pode trazer consequências graves para todo o planeta. Logo aqui, onde além de tudo os mangues sustentam direta ou indiretamente mais de 1 milhão de pessoas, segundo o MMA.

Nós que vivemos no Rio sabemos bem o quanto esses biomas são vítimas históricas de desrespeito e negligência tanto da população quanto do poder público. É preciso que entendamos o valor do manguezal e que lutemos tanto individual quanto coletivamente para preservá-lo. Muita coisa é possível de ser feita, podem acreditar. Eu próprio sou testemunha, no Instituto OndAzul, , do nascimento e do amadurecimento de um lindo projeto chamado 'Mangue Vivo', que recupera áreas degradadas de manguezais no entorno da Baía de Guanabara, localizadas na Praia de Mauá, distrito de Magé. Tenho me surpreendido com o poder de transformação da realidade que as ações coletivas podem ter.

Tudo começou em 2000, quando um grande derramamento de petróleo transformou a área em um pequeno deserto compactado, com a presença de muito lixo e esgoto doméstico. Hoje, a Unidade de Conservação Parque Natural Municipal Barão de Mauá é uma das maiores áreas de manguezais em recuperação no Brasil. Tendo vivido essa história, para mim não há mais como acreditar que o ser humano é um caso perdido. É mais simples do que parece. Tudo começa no momento em que nos tornamos dispostos a aprender com a natureza, mantendo com ela uma relação mais harmônica. Precisamos compensar os nossos maus hábitos herdados nos tornando disponíveis a identificá-los e combatê-los.

Qual mau hábito você vai mudar hoje?

André Esteves é secretário Executivo do Instituto OndAzul

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